Ucranianas presas com ovos de araras-azuis-de-lear são denunciadas à Justiça

O Ministério Público Federal de Minas Gerais denunciou as duas ucranianas presas em 2 de fevereiro com ovos de araras-azuis-de-lear (Anodorhynchus leari) na altura do km 409 da rodovia BR-116, em Governador Valadares (MG). Elas retornavam da Bahia e seguiam de carro para São Paulo, onde embarcariam para a Europa, quando foram surpreendidas por uma equipe da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Cabe à Justiça Federal analisar a denúncia, que é resultado de investigações policiais. Caso seja aceita, ambas se tornarão rés em um processo judicial.

Durante a abordagem feita pela PRF, uma bolsa marrom com uma pequena estufa com cinco ovos foi localizada atrás do banco do motorista. A incubadora, ligada a um carregador veicular, mantinha sua temperatura interna em 37 graus e a umidade em 39%. Na condução das ucranianas até a base policial, uma delas conseguiu quebrar quatro ovos.

Informações obtidas pelo Ministério Público do estado da Bahia e repassadas ao Ministério Público Federal apontam que, nos dias anteriores à prisão, as ucranianas de 45 e 74 anos estiveram em Jeremoabo (BA), região onde vivem as araras. As investigações realizadas indicaram que as duas estiveram três vezes no Brasil nos últimos três anos – sempre coincidindo com o período reprodutivo das araras-azuis-de-lear. Na denúncia, foi destacado também que as duas mulheres não têm empregos fixos e manteriam contato com traficantes de fauna baianos.

A denúncia indica que as ucranianas praticaram quatro crimes: aquisição irregular de ovos de animais silvestres, transporte desses ovos, tentativa de contrabandear para o mercado internacional e, ao serem flagradas pela PRF, destruíram quatro ovos – o que caracterizaria maus-tratos. O Ministério Público Federal também solicitou que seja mantida a prisão preventiva de ambas, pois haveria risco de fuga do Brasil. O caso está com a 1ª Vara Federal de Governador Valadares.

Ameaçadas de extinção

A arara-azul-de-lear é endêmica da Caatinga baiana, ocorrendo apenas em duas localidades, distantes 240 quilômetros uma da outra: no Raso da Catarina e no Boqueirão da Onça. A população da ave foi estimada, em 2022, em 2.273 aves. A espécie está classificada como “em perigo” na Lista Vermelha de espécies ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês).

Além da alteração do hábitat da espécie, em que ocorre a perda da palmeira licuri (Syagrus coronata), sua principal fonte de alimento, o tráfico de fauna é, historicamente, uma das principais ameaçadas à arara-azul-de-lear. Nos últimos anos, a recorrência de casos de comércio ilegal da ave tem reforçado a ideia de que houve um aumento da procura pela ave nesse mercado criminoso.

As araras-azuis-de-lear têm sido alvo constante do tráfico internacional de animais silvestres. Em julho do ano passado, 29 araras-azuis-de-lear foram apreendidas no Suriname. As aves seriam enviadas para a Europa por um comerciante que atuava no país e fraudava a documentação dos animais. No mesmo dia em que seriam devolvidas ao Brasil, já em agosto, e 23 delas foram furtadas de um galpão do governo daquele país.

Em fevereiro, 12 araras-azuis-de-lear e 17 micos-leões-dourados (Leontopithecus rosalia) apreendidos com traficantes de fauna em Togo, na África. Os animais foram repatriados ao Brasil em uma operação envolvendo o Ibama, a Polícia Federal e o Ministério das Relações Exteriores.