Estudo realizado pela Universidade Federal do Pará (UFPA), o Instituto Tecnológico Vale (ITV) e a empresa Soluções em Geoinformação (Solved), a partir de sensoriamento remoto, revela que os manguezais das regiões Sul e Sudeste do Brasil perderam 34 quilômetros quadrados de sua extensão em apenas oito anos. Essa redução representa 4% da cobertura total desse ecossistema na área em questão e pode ser um alerta para ampliar os cuidados. Os resultados estão descritos em artigo científico publicado em dezembro do ano passado na revista Anais da Academia Brasileira de Ciências.
Pesquisa com satélites
Os pesquisadores submeteram imagens de satélites radares e ópticos e dados coletados em campo a uma Análise Baseada em Objetos Geográficos (Geobia), método que classifica as imagens nas seguintes categorias: corpos d’água, terra firme e manguezais. Segundo um dos autores do estudo, Pedro Walfir Souza-Filho, da UFPA e do ITV, a técnica escolhida é mais precisa do que aquelas baseadas apenas em imagens de satélites ópticos. “Ela reúne pixels semelhantes baseadas na classificação do conteúdo. Assim, ela forma uma visualização mais integrada”, explica o cientista.
Os resultados revelaram a perda de 34 quilômetros quadrados de manguezais nas regiões Sul e Sudeste entre 2008 e 2016, ou seja, a cobertura total passou de 823 para 789 quilômetros quadrados em oito anos. A diminuição foi observada em todos os cinco estados do Sul e Sudeste banhados pelo mar, com exceção do Rio de Janeiro. “Os manguezais têm um papel importante na proteção costeira em resposta a eventos extremos, na conservação de hábitats marinhos e da vida selvagem, além de capturar grandes quantidades de carbono da atmosfera”, destaca Souza-Filho.
Em comparação com outras regiões do Brasil, o Sul e o Sudeste foram os mais afetados pela perda de manguezais no período estudado. No Nordeste, as áreas cobertas por esse ecossistema permaneceram estáveis entre 2008 e 2016, enquanto no Norte, elas cresceram cerca de 10%. Baseado em observações e análises, os pesquisadores levantaram hipóteses para explicar essa diferença e atribuíram a redução na cobertura principalmente à ocupação da zona costeira com aumento de urbanização e de atividades portuárias.
Para os pesquisadores, o método utilizado no estudo é uma ferramenta eficaz para o monitoramento dos manguezais e os dados podem colaborar para uma proteção mais acentuada desse ecossistema.
Os resultados podem ser utilizados como referência para o estabelecimento de políticas de conservação, principalmente em função do mapeamento das áreas de manguezais estáveis”, salienta Souza-Filho.
Os cientistas pretendem seguir estudando o tema para contribuir com a compreensão e a conservação das áreas de mangue no Brasil. “Continuamos desenvolvendo pesquisas na região estudada e atualizando o mapeamento anualmente para que possamos observar as tendências atuais”.