Quatro aves: choquinha-de-alagoas está perto da extinção em área protegida

Pesquisadores publicaram, na revista científica Bird Conservation International, um estudo que aponta para o grave risco de extinção da choquinha-de-alagoas (Myrmotherula snowi), ave endêmica do Nordeste. Os dados mais recentes revelam que apenas quatro indivíduos da espécie foram registrados na Estação Ecológica de Murici (Esec Murici), em Alagoas. O levantamento foi feito por pelas equipes da SAVE Brasil e do Parque das Aves.

A SAVE Brasil, ONG que atua na conservação de aves, aponta três fatores para explicar a situação atual da espécie: o desmatamento, a degradação de seu hábitat e o baixo sucesso reprodutivo. Pertencente à Mata Atlântica, a choquinha-de-alagoas é mais uma das vítimas da exploração desenfreada que o bioma sofreu a partir da chegada dos colonizadores europeus. Mesmo com 12% restante da cobertura vegetal do bioma, a SAVE Brasil destaca que não basta ter floresta em pé, mas é fundamental que esteja bem conservada.

A predação é um dos principais problemas que dificultam a reprodução da espécie na natureza, especialmente devido a ataques a ninhos promovidos pela cuíca (Marmosa demerarae) e pela cobra-papa-ovo (Spilotes sulphureus). Com a perda de grandes carnívoros como onças e gatos-do-mato na Mata Atlântica, há um aumento populacional de suas presas, como as cuícas, o que gera um impacto também na choquinha-de-alagoas.

Fauna ameaçada na Esec Murici

A Esec Murici é uma unidade de conservação federal de proteção integral que é gerida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Nela, os pesquisadores identificaram, até 2023, a presença de seis indivíduos da choquinha-de-alagoas. Contudo, neste ano, apenas quatro foram registrados. Um dos autores do estudo e chefe de Conservação do Parque das Aves, Benjamin Timothy Phalan, afirma que ainda há a presença dessa ave em outros locais, como áreas de mata em Pernambuco, e portanto não se pode afirmar que a Esec Murici seja o último reduto da espécies – apesar de ser é um dos mais críticos.

Só manter a floresta em pé não é uma abordagem suficiente em termos de conservação da biodiversidade na área”, afirma a SAVE Brasil.

Existem outras aves da região que também estão ameaçadas de extinção, como o jacú-de-alagoas, o cara-pintada, o zidedê-do-nordeste, o vira-folha-pardo e o rabo-branco-de-margarette. Há também duas espécies que só foram descritas cientificamente em 2021 e não constam na lista de ameaçadas: o surucuá-de-murici e a corujinha-de-alagoas. Outros animais, como a jararaca-de-murici, o coendu-mirim, o gato-maracajá e a perereca-de-murici, também figuram entre as riquezas da Esec.

Regularização fundiária e caça

A SAVE Brasil aponta que um dos principais problemas que afetam a Esec Murici é a falta da regularização fundiária. Apesar da criação da unidade de conservação ser datada de 2001, até hoje as fazendas e outras propriedades e posses que existem em seu território não foram desapropriadas. Ou seja, toda a Esec – que deveria ser formada por terrenos da União – ainda é composta por propriedades particulares, assentamentos e acampamentos. Consequentemente, há dificuldades para se proceder com o reflorestamento. Assim, mesmo após 20 anos da diminuição do desmatamento na Mata Atlântica da região, o que se observou foi o declínio da choquinha-de-alagoas.

A presença de caçadores na região ainda também é um problema. Apesar da atuação intensa por parte do ICMBio para coibir esse tipo de crime, as equipes que atuam na Esec ainda encontram vestígios dessa atividade ilegal durante as vistorias e rondas pela unidade de conservação.