Polícia Federal investiga casal de Magé (RJ) suspeito de traficar micos-leões-dourados

Uma equipe da Polícia Federal e do Ibama esteve na manhã de hoje em Magé (RJ) a procura de um casal suspeito de traficar micos-leões-dourados (Leontopithecus rosalia). A ação incluía o comprimento de mandados de busca e apreensão na residência. O homem não foi localizado. Sua esposa acompanhou a operação. Ambos possuem passagens por crimes contra a fauna.

A Polícia Federal iniciou as investigações que chegaram até o casal em novembro de 2023, quando foram informados de que armadilhas para a captura de micos foram encontradas na Área de Proteção Ambiental (APA) da Bacia do Rio São João/Mico-Leão-Dourado. A unidade de conservação é gerida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

A APA engloba as únicas áreas onde vivem os micos-leões-dourados.

O casal está sendo investigado pelos crimes de caça, transporte e manutenção ilegais de animais silvestres em cativeiro, com agravantes pelo fato de o delito ter características de ser uma atividade profissional, praticado contra espécie ameaçada de extinção e durante o período noturno. Eles também podem responder por maus-tratos e por receptação qualificada (adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar coisa que é produto de crime).

Além do cumprimento dos mandados de busca e apreensão, expedidos pela 2ª Vara Federal de Niterói, a Polícia Federal tinha a missão de notificar os suspeitos de que ambos estão proibidos de acessar unidades de conservação e seu entorno. Eles também terão de comparecer para terem tornozeleiras eletrônicas instaladas em suas pernas.

Tráfico de aves

Desde 2001, esse homem tem passagens pela polícia por crimes relacionados ao tráfico de fauna. Em outubro de 2011, ele foi detido em Congonhas (MG) transportando em um carro 116 aves silvestres – 98 papagaios-verdadeiros, 15 araras-canindé e duas araras-vermelhas se um papagaio-galego. Duas araras estavam mortas. Ele afirmou ter adquirido os animais em Montes Claros (MG) e iria levá-los para o Rio de Janeiro (RJ).

Tráfico de micos-leões-dourados

Em 2020, o Fauna News publicou a reportagem “Novos casos de tráfico de araras-azuis-grandes e micos-leões-dourados deixam ambientalistas em alerta”, em que se alertava para um aumento do tráfico de animais de espécies silvestres nativas ameaçadas de extinção do Brasil. Apreensões de micos-leões-dourados já estavam acontecendo dentro e fora do Brasil e preocupavam os profissionais da Associação Mico-Leão-Dourado, entidade que desde a década de 1980 luta contra o tráfico da espécie e trabalha pela conservação desses animais.

Recentemente, novos casos de tráfico de micos-leões-dourados voltaram a chamar a atenção para o problema.

Em julho do ano passado, 29 araras-azuis-de-lear e sete micos foram apreendidas no Suriname. Os animais seriam enviados para a Europa por um comerciante que atuava no país e fraudava a documentação dos animais.

No começo do mês passado, 20 micos e 12 araras-azuis-de-lear foram encontrados dentro de um barco na costa de Togo, na África. Três primatas estavam mortos. Quatro homens foram detidos. As aves e os primatas foram repatriados e chegaram ao Brasil em 24 de fevereiro.

Micos ameaçados de extinção

Na década de 1960, estimativas indicavam a existência de somente 200 micos-leões-dourados vivendo livres na natureza. A derrubada da Mata Atlântica fluminense – a espécie existe somente em uma região do estado do Rio de Janeiro – e a exportação de animais para criação doméstica e zoológicos foram identificadas como as principais causas do problema.

Atualmente, após muito trabalho envolvendo diversas entidades e o poder público, a população dos micos-leões-dourados é de cerca de 4.800 animais. Apesar dos avanços, esses primatas continuam ameaçados de extinção (“em perigo” pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima e pela União Internacional para a Conservação da Natureza), sendo que a falta de florestas é o principal obstáculo para a conservação da espécie.