Pesquisadores confirmam presença do gato-maracajá-peludo na Chapada do Araripe (CE)

O registro inédito de um gato-maracajá-peludo (Leopardus wiedii) na Chapada do Araripe, no Ceará, foi publicado dia 21 na revista científica Notas sobre Mamíferos Sudamericanos, da Sociedade Argentina para o Estudos dos Mamíferos. A espécie desse pequeno mamífero está ameaçada de extinção e é bastante rara no Nordeste. É a segunda vez que esse felino é registrado no Ceará.

De acordo com um dos autores do estudo, o biólogo Paulo Henrique Marinho, o animal foi fotografado pela pesquisadora Patrícia Farias Rosas-Ribeiro, também autora do artigo, na sede da Floresta Nacional do Araripe-Apodi, em Barbalha, no ano de 2015. Ele havia sido deixado na unidade de conservação após ser entregue por moradores da região à Polícia Militar Ambiental. Patrícia identificou o felino e, por meio de fotografias enviadas a colegas, veio a confirmação de que se tratava de um Leopardus wiedii.

A pesquisa em questão confirma, pela segunda vez, a presença de um animal da espécie em solo cearense. O primeiro encontro aconteceu na serra de Baturité, a cerca de 400 quilômetros da Chapada do Araripe. Esse registro do gato-maracajá-peludo, que é geralmente encontrado em florestas úmidas de biomas como a Amazônia e a Mata Atlântica, reacende o debate sobre as estratégias de sua conservação no Nordeste.

Serra do Baturité

Paulo relembra que o primeiro registro do gato-maracajá-peludo no Ceará se deu na Área de Proteção Ambiental (APA) da Serra de Baturité, provindo de uma coleção biológica e publicado no trabalho dos pesquisadores Anderson Feijó e Alfredo Langguth, em 2013.

A serra do Baturité é um brejo de altitude com vegetação majoritariamente de Mata Atlântica. Apesar de ser uma unidade de conservação estadual, a APA sofre com desmate e degradação, o que gera consequências severas para as espécies que abriga, incluindo o gato-maracajá-peludo.

Ameaças e conservação

O gato-maracajá-peludo, assim como outros felinos silvestres, é ameaçado pela perda de hábitat, caça, atropelamentos e transmissão de doenças a partir de cães e gatos domésticos. Paulo explica que a espécie está ameaçada de extinção na categoria “vulnerável” em nível nacional. Já no Ceará, a sua situação é mais crítica: ela está classificada como “em perigo”, sobretudo pela perda de hábitat causada pela expansão urbana e da agropecuária. A presença do felino na Chapada do Araripe chama ainda mais a atenção para a necessidade de conservação da região, que também sofre com o desmatamento e a degradação ambiental.

Com a confirmação da ocorrência da Chapada do Araripe, agora precisamos trabalhar para que ações do Plano Nacional de Ação Nacional para Conservação dos Pequenos Felinos, do ICMBio, sejam colocadas em prática, bem como a elaboração e a implementação de planos de conservação estaduais”, pontua Paulo.

Paulo lamenta que ainda não há estratégias de conservação locais focadas na espécie, mas que em ambas as áreas de identificação do Leopardus wiedii existem ações do ICMBio e da Secretaria do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Estado em parceria com ONGs. Agora, um dos objetivos para os próximos passos será melhorar o entendimento sobre a distribuição e a ecologia do gato-maracajá-peludo nas serras do Ceará para poder traçar melhores estratégias de conservação, focadas nos hábitats que a espécie realmente utiliza.