Pesquisadores batem o martelo: a anta não está extinta na Caatinga

Pesquisadores da Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira do Instituto Brasileiro de Pesquisas Ecológicas (Incab-Ipê), constataram, em sua mais recente expedição, a presença da anta (Tapirus terrestris) na Caatinga. Essa confirmação é histórica e deve auxiliar nos planos de conservação da espécie.

A anta está considerada extinta na Caatinga desde 2012. Mas isso está prestes a mudar nos documentos oficiais. Após uma expedição que iniciada em 11 de março deste ano e que durou 21 dias, os cientistas do Incab-Ipê finalmente bateram o martelo e confirmaram a presença da espécie no bioma. Os vestígios do mamífero foram encontrados tanto na Área de Proteção Ambiental do Rio Preto, na Bahia, quanto em algumas localidades no entorno do Parque Nacional da Serra das Confusões, no Piauí.

Segundo a coordenadora do Incab-Ipê, Patrícia Medici, foi possível detectar pegadas e amostras fecais. Além disso, a equipe colheu informações com habitantes acerca dos registros históricos da anta. A pesquisadora comenta que foi uma tarefa difícil de ser realizada, pois as localidades são de difícil acesso. Somado a isso, a densidade populacional desse animal silvestre é baixa na Caatinga, o que exige constante deslocamento.

Pegadas

A anta tem uma pegada nítida e única: uma pata com três dedos, um quarto dedo vestigial e almofada. Pegadas assim apareceram nas duas localidades investigadas. “Tivemos algumas pegadas de alguns dias antes de chuvas que a gente pegou lá na região e algumas pegadas bem frescas da noite anterior” relata Patrícia.

A gente teve pegadas de um adulto com um filhote. Possivelmente uma fêmea adulta com filhotinho. Então, tivemos, sim, indícios de mais de um indivíduo.”

Além das  marcas no solo, os pesquisadores encontraram outros vestígios, como amostras fecais.

Nenhuma anta foi vista. Porém, Patrícia explica que esse animal é noturno, solitário e tende a se esgueirar com bastante facilidade. Além disso, seu período de atividade se dá em momentos de pouco movimento. Em qualquer área que habita, não é fácil de ser avistado. Em locais com histórico de grandes incêndios ou com bastante presença humana, as antas podem se tornar mais avessas à presença de pessoas. Isso piora se há caça e poucos indivíduos. Por conta desses fatores, a coordenadora do Incab-Ipê garante que os vestígios encontrados são suficientes para concluir que o animal está presente na Caatinga.

Próximos passos

Para o futuro, a equipe do Incab-Ipê quer investigar novos lugares, como algumas áreas no oeste da Bahia. Há uma probabilidade de uma nova expedição sair ainda este ano, em agosto. A equipe agora está mapeando os dados coletados. As informações serão disponibilizadas para órgãos responsáveis por avaliar espécies para listas de espécies ameaçadas, como o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), e a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês).

Os dados também serão encaminhados para os processos de planejamento de ações conservacionistas, como o Plano de Ação Nacional para Conservação dos Ungulados Ameaçados (PAN Ungulados). O plano, elaborado em 2019, passará por um novo processo de planejamento e essas informações serão também utilizadas pensando especificamente no que precisa ser feito na Caatinga.