Em busca da anta perdida: nova etapa por vestígios da espécie na Caatinga

Pesquisadores da Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira (Incab) do Ipê – Instituto de Pesquisas Ecológicas estão realizando sua segunda expedição à Caatinga para encontrar antas (Tapirus terrestris). A espécie é considerada extinta no bioma nordestino.

O grupo partiu de Campo Grande (MS) no dia 11 deste mês em busca de pistas da existência da anta na Caatinga. O destino é a Área de Proteção Ambiental (APA) do Rio Preto, localizada no oeste baiano, próxima da borda entre o Cerrado e a Caatinga, e uma área que fica a leste do Parque Nacional da Serra das Confusões, no Piauí, entre a unidade de conservação e a serra da Capivara. Há relatos de avistamentos de antas nessas duas localidades.

De acordo com a coordenadora do Incab-Ipê, Patrícia Medici, os pesquisadores estão procurando “por sinais desses bichos, como pegadas, fezes, indícios de alimentação”, além de “aprofundar as conversas com as comunidades locais”. Nessa expedição, o grupo quer responder se existe uma população de antas vivendo na Caatinga ou se elas apenas passam por essas áreas.

A primeira expedição

Em 2012, a espécie foi dada como extinta na Caatinga. Porém, Patrícia Medici explica que havia poucos dados. Por conta disso e provocados por alguns relatos de avistamentos de antas, uma primeira expedição foi realizada em março de 2023. O grupo passou pelos estados de Minas Gerais, Bahia e Piauí com o objetivo de resgatar as memórias das pessoas sobre a ocorrência desse animal no passado e investigar a presença atualmente. A expedição durou cerca de um mês, período em que os cientistas percorreram 10 mil quilômetros entrevistando os moradores locais – principalmente os idosos.

Nessa primeira etapa, foi possível detectar a presença histórica desse animal em pontos internos da Caatinga, em áreas que já foram bastante úmidas. Foram indicadas 38 localidades para a existência da anta no passado e mais 53 com passagens recentes do animal nas extremidades do bioma, entre a Caatinga e o Cerrado, em grande parte nos estados da Bahia, Minas Gerais e Piauí.

Conservação unificada

A anta, atualmente, está ameaçada por causa da perda de hábitat, da caça e das mudanças climáticas, informou o Incab-Ipê. O projeto realiza programas de pesquisa e conservação da espécie nos quatro biomas brasileiros em que é encontrada: Mata Atlântica, Pantanal, Cerrado e Amazônia.

A Caatinga está passando por um processo de desertificação. O bioma ocupa cerca de 10% do território brasileiro e abriga 133 espécies de mamíferos, 548 de aves, 98 de anfíbios, 196 de répteis e 386 de peixes. A esperança dos pesquisadores é aliar a conservação da anta com a conservação da Caatinga.