Ostentando a morte: troféus de caça são apreendidos pelo Ibama

O Ibama apreendeu na terça-feira (10 de setembro) 12 troféus de caça irregulares na residência de um caçador em São José do Rio Preto (SP). No local, havia até um leão taxidermizado. O responsável pelo material era alvo de uma operação da Polícia Federal de combate à lavagem de dinheiro proveniente da extração e do comércio ilegal de ouro em garimpos no Mato Grosso e no Pará.

De acordo com o Ibama, foram recolhidas 11 cabeças de animais e uma ave taxidermizadas. A apreensão deu-se por problemas na documentação de importação das peças, que faziam parte da decoração do imóvel.

O Ibama informou que o leão, encontrado na sala, “foi vítima de ‘caça enlatada’, prática em que os animais são criados em cativeiro até atingirem a idade adulta, sendo então liberados em áreas controladas para serem abatidos por caçadores.” A prática é regular em alguns países, como a África do Sul, e já foi pano de fundo para o filme “A Menina e o Leão” (Paris Filmes, 2019). Milhares desses felinos são criados em fazendas para serem mortos em áreas cercadas por endinheirados turistas sádicos.

A sala do caçador de Rio Preto era o suprassumo do mau gosto e do orgulho em ostentar o prazer de matar. Uma completa falta de sintonia com um planeta em crise, que sufocado e violentado pelas ações humanas, começou a trabalhar para nos extirpar daqui. As ditas crises climática e da biodiversidade não são uma fase, mas uma reação da vida contra a morte – e o Homo sapiens é a morte.

Não há dinheiro no mundo que compre bom senso, respeito e afeto com a vida. Na sala do imóvel de arquitetura requintada, partes de animais eram considerados decoração e lembranças de aventuras e viagens. Naqueles poucos metros quadrados está a essência do antropocentrismo mais egoísta e burro, que ainda acha que a natureza não tem o poder de eliminar uma espécie tão prepotente como a nossa. Que ainda acha que pode controlar a natureza.

O Brasil arde em queimadas, respira fumaça, torra animais e acaba com seus recursos hídricos. Pelo interior do país, não há um efetivo controle da caça e do tráfico de fauna. Ibama e ICMBio, bem como órgãos ambientais de Estados e municípios, vivem a míngua e do esforço de servidores – e não do apoio institucional dos gestores eleitos. Sejam eles de direita ou de esquerda.

A composição da Câmara dos Deputados e do Senado, formada em sua maioria por uma visão tacanha de mundo, parecida com a do caçador de Rio Preto, é a cara de expressiva parcela da sociedade brasileira. Não dá para negar…

O pessimismo é inevitável.

A natureza não precisa da espécie humana para existir.