Possui graduação em Ciências Biológicas e mestrado em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atualmente, é doutoranda em Ecologia pela mesma universidade, trabalhando junto ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF-UFRGS).
Seus principais interesses são conservação de vertebrados, ecologia de rodovias, mastozoologia, etologia, ecologia de felinos e educação ambiental.
Atropelamentos e perda de hábitat são alguns dos vários impactos causados pelas rodovias na fauna, comumente associados aos vertebrados como as principais vítimas. No entanto, esses impactos também afetam outras formas de vida, como os invertebrados.
Esses animais, em geral, acabam sendo um grupo negligenciado nos estudos sobre rodovias, provavelmente devido à dificuldade de amostragem, falta de carisma popular e/ou ao baixo interesse econômico (afinal, um besouro colidindo com um carro não causará grandes problemas, certo?). Contudo, esse grupo possui diferentes tipos de relações (negativas e positivas) com as rodovias, como o uso da vegetação lateral ao longo das estradas e o próprio deslocamento pela rodovia.
Nos últimos anos, tenho observado em estradas de baixo fluxo e sem pavimentação no Pantanal o deslocamento e o uso de recursos (como fontes de água) por centenas de borboletas. Apesar de não ter uma variedade de espécies, uma abundância elevada de borboletas surge logo no início das chuvas, durante o período de enchente (novembro – janeiro) no bioma.
Veja o vídeo abaixo. (Imagens: Gabriela Schuck):
São dois comportamentos que tenho observado: a busca de água, que começa a acumular-se na estrada após o início das chuvas (um recurso escasso durante a estação seca) e o deslocamento linear, seguindo o corredor da estrada. Pode ser que esse deslocamento na estrada seja desencadeado sempre que passa algum veículo e, na verdade, a maior parte do tempo elas permaneçam repousadas no solo para usufruir dos recursos ali disponíveis. Até porque, todas as vezes que observei esse acontecimento, estava em deslocamento com algum veículo.
Esse é um evento interessante a ser estudado e suscita várias questões para discussão. Estariam as borboletas usando a estrada para o deslocamento entre diferentes tipos de paisagem? A abundância delas é maior na estrada do que em outros pontos de água fora da estrada? Esse comportamento poderia ser considerado uma armadilha ecológica?
Há estudos indicando que algumas espécies de borboletas têm tendência de deslocarem-se de forma linear e evidenciam o uso das vegetações na beira de rodovias como hábitat. Obviamente, em vias com alto fluxo de veículos e em ambientes degradados, dificilmente ocorrerá uma relação positiva ou até mesmo a reprodução desse comportamento observado no Pantanal. Grande parte das pesquisas sobre borboletas e rodovias concentra-se em estradas pavimentadas e não explora tanto o movimento de deslocamento ao longo da rodovia. As principais relações estudadas entre esses animais e as estradas são o uso da vegetação adjacente à estrada como corredores de deslocamento.
As borboletas desempenham serviços cruciais para os ecossistemas, como a polinização de plantas. No entanto, os efeitos adversos das rodovias podem afetar significativamente a população desse grupo. Estudos científicos que explorem a relação entre borboletas e rodovias, especialmente no contexto brasileiro, carecem de maior aprofundamento. Por enquanto, ficam as minhas dúvidas: para onde está indo esse trânsito de borboletas e quais as consequências dele para as espécies envolvidas?
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Possui graduação em Ciências Biológicas e mestrado em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atualmente, é doutoranda em Ecologia pela mesma universidade, trabalhando junto ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF-UFRGS). Seus principais interesses são conservação de vertebrados, ecologia de rodovias, mastozoologia, etologia, ecologia de felinos e educação ambiental.
