Por Fernanda Zimmermann Teixeira
Bióloga, mestre e doutora em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É pós-doutoranda no Laboratório de Ecologia da Paisagem da Carleton University (Canadá) e integrante do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF-UFRGS)
estradas@faunanews.com.br
Atropelamentos de animais silvestres ocorrem quando um veículo colide com um animal presente na pista. Uma medida lógica para mitigar os atropelamentos em uma estrada seria retirar os veículos. Claro, isso parece não fazer sentido, já que as estradas são construídas principalmente para o trânsito de veículos. Porém, as estradas podem ser fechadas temporariamente ou ter apenas o fluxo controlado, diminuindo assim os riscos de colisões com animais silvestres.
Essa medida tem sido tomada em alguns lugares ao redor do mundo. Nas Ilhas Christmas, na Oceania, todo ano, no início da estação chuvosa, ocorrem migrações de caranguejos-vermelhos das florestas para a costa e, todos os anos, algumas estradas são temporariamente fechadas para evitar a mortalidade em massa desta espécie e passagens de fauna são instaladas em outros trechos nos quais o trânsito não é proibido. Dentro do Parque Nacional de Banff, no Canadá, a estrada que corta o vale Bow fica fechada para trânsito de veículos todas as noites durante a primavera para diminuir o impacto sobre as populações de ursos pardos e lobos, evitando que atropelamentos ameacem ainda mais essas espécies.
Mas será que isso é possível no Brasil?
Na verdade, isso já acontece.
A estrada do Colono, aberta ilegalmente no Parque Nacional do Iguaçu (PR), está fechada desde 2001 justamente pela importância dessa área para a conservação das espécies que ocorrem no parque. Embora haja pressão para a reabertura da estrada por parte de alguns setores da sociedade, o fluxo de veículos nessa região poderia impactar fortemente as populações de várias espécies que vivem na região.
Outro exemplo é a estrada-parque SP-139, que corta o Parque Estadual Carlos Botelho (SP). Desde que foi pavimentada, essa estrada permanece fechada para o fluxo de veículos das 20h às 6h, horário com maior risco de atropelamento da fauna silvestre, seja pela atividade de animais noturnos e crepusculares, seja pela baixa visibilidade dos motoristas.
Há ainda a possibilidade de controlar o fluxo de veículos. Ainda no Parque Nacional do Iguaçu, a estrada que dá acesso às cataratas, onde anteriormente era possível transitar com carros particulares, agora só pode ser acessada em veículos de turismo do parque. Essa medida foi tomada após uma Ação Civil Pública devido ao atropelamento de uma onça-pintada dentro do parque.
Embora ocorram, essas medidas ainda são pouco conhecidas e raramente consideradas como uma alternativa no Brasil. Para evitar os impactos de rodovias, o ideal é sempre evitar que as estradas cortem áreas importantes para a conservação. Porém, em casos em que essas estradas já existem, o seu fechamento permanente ou temporário pode ser eficiente para diminuir os impactos sobre a fauna.