Por Fernanda Zimmermann Teixeira
Bióloga, mestre e doutora em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É pós-doutoranda no Laboratório de Ecologia da Paisagem da Carleton University (Canadá) e integrante do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF-UFRGS)
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Em geral associamos estradas a impactos negativos na fauna. Porém, algumas espécies parecem preferir viver nesses ambientes e se beneficiar da presença dessas vias. Diversos estudos mostram evidências de relações positivas entre a presença de estradas e a ocorrência de algumas espécies, sobretudo em paisagens dominadas por atividades agrícolas.
Um estudo, por exemplo, identificou maior abundância de pequenos roedores em áreas com maior densidade de rodovias e inferiu que isso pode estar relacionado ao aumento da qualidade do habitat próximo às estradas. Outro estudo encontrou um maior número de serpentes atravessando uma estrada do que o esperado ao acaso e atribuiu isso à atração que a estrada pode ter para estes animais regularem sua temperatura no asfalto mais quente. Ainda, dois outros estudos encontraram maior atividade de alimentação por algumas espécies próximo à beira da estrada, sendo um para aves de rapina e outro para morcegos.
Embora em alguns casos rodovias possam mesmo ter um efeito positivo sobre uma espécie, em outros casos pode haver apenas um aparente efeito positivo enquanto, na verdade, as rodovias podem ser uma armadilha ecológica.
Mas o que é uma armadilha ecológica? É quando um ambiente tem características que fazem com que animais prefiram viver lá, mas que na verdade causam efeitos negativos a longo prazo nas populações desses animais, por exemplo, quando a mortalidade é maior do que a natalidade ou colonização por novos indivíduos.
Um exemplo disso é o caso dos ursos pardos no oeste do Canadá. Esses animais são atraídos de longe para a região leste do Parque Kootenay, onde há grande abundância de frutas importantes para a alimentação deles (huckleberries e buffaloberries). O problema é que eles chegam lá e começam a se alimentar de lixo. A presença de humanos torna essa região uma armadilha ecológica, pois há comida abundante, mas altas taxas de mortalidade devido à presença de uma rodovia e uma ferrovia cortando a área.
Portanto, cuidado: nem sempre mais indivíduos em um local é melhor para a espécie!