Médica veterinária e mestre em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP). Atua desde 2010 na Divisão da Fauna Silvestre da cidade de São Paulo, sendo responsável pelo setor de recebimento de animais oriundos do tráfico. Tem experiência nas áreas de patologia animal, clínica de aves e répteis e reabilitação. É docente do curso de bacharelado em medicina veterinária do Centro Universitário Anchieta desde 2023.
Um dos maiores gargalos dentro de um centro de triagem e reabilitação de animais silvestres (Cetras) é a dificuldade em repatriar animais. Afinal, nem todos os espécimes atendidos ocorrem no mesmo local da estrutura que os recebe. Quando a repatriação não ocorre de forma constante, há superlotação, refletindo na redução dos recebimentos.
Muitos animais oriundos do tráfico de fauna procedem de variados Estados e, inevitavelmente, de biomas e condições climáticas diversas. Em São Paulo, por exemplo, temos as estações do ano definidas e marcadamente com variações de temperatura.
Assim, o recebimento de iguanas (Iguana iguana), principalmente filhotes, se traduz em uma corrida contra a baixa temperatura do inverno. Caso não haja um bom preparo dos terrários, com temperatura e umidade adequadas, haverá um aumento de mortalidade. A repatriação para o Nordeste é extremamente necessária para esses animais.
A repatriação compreende não só a disponibilidade de recursos financeiros como também o relacionamento entre o Cetras de origem e o de destino para que haja a possibilidade de envio dos animais.
Para essa logística dar certo, vale a pena lembrar do artigo “A importância do trabalho em rede nas solturas da fauna”, publicado em 3 de junho. A chave para o sucesso da repatriação depende do trabalho em rede, do esforço mútuo dos técnicos dos Cetras e de suas parcerias entre si, além de uma boa comunicação entre órgãos ambientais estaduais e municipais.
Devemos questionar nosso papel como Cetras acerca da destinação e ter claro sobre a importância de devolver os animais que foram retirados de seus hábitats. Muitas vezes ainda esbarramos na dificuldade de uma reabilitação adequada, mas para o animal que será repatriado e solto, ela é fundamental e pode ser continuada após a repatriação acontecer – desde que seja possível e estabelecida entre os técnicos.
Em junho, o Centro de Manejo e Conservação de Animais Silvestres (Cemacas) da prefeitura de São Paulo realizou três repatriações. Para Pernambuco, envolvendo o Cetras Tangará, da Agência Estadual de Meio Ambiente, foram enviados 69 baianos (Sporophila nigricollis), 22 galos-de-campina (Paroaria dominicana), 22 golinhos (Sporophila albogularis) quatro corrupiões (Icterus jamacaii), 11 tico-ticos-rei-cinza (Coryphospingus pileatus) e dois pintassilgos-do-nordeste (Spinus yarrelli). Essa repatriação contou com o apoio do Projeto Bicudo.
Animais recebidos no Cetras Tangará, em Recife (PE) – Vídeo: Yuri Marinho Valença
Para Mato Grosso do Sul, foram enviados ao Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (Cras) do Imasul (órgão ambiental do Estado), em Campo Grande, uma sucuri (Eunectes murinus), dois papagaios-galego (Alipiopsitta xanthopterus), dois sabiás-gongás (Saltator coerulescens) e um xexéu (Cacicus cela). Esses animais, inclusive, já foram soltos na região do Pantanal!
Por último, fizemos uma repatriação em parceria com o Ibama de São Paulo e, através do órgão federal, conseguimos repatriar 46 jabutis-piranga (Chelonoidis carbonarius), 10 iguanas (Iguana iguana) filhotes e um cágado-do-nordeste (Mesoclemmys tuberculata) para o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do Ibama em Porto Seguro (BA).
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Médica veterinária e mestre em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP). Atua desde 2010 na Divisão da Fauna Silvestre da cidade de São Paulo, sendo responsável pelo setor de recebimento de animais oriundos do tráfico. Tem experiência nas áreas de patologia animal, clínica de aves e répteis e reabilitação. É docente do curso de […]
