Por Suzana Camargo
Mongabay
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Mamífero nativo das savanas das américas do Sul e Central, o tamanduá-bandeira tem um padrão de comportamento bem específico: se alimenta em espaços abertos, como campos, e descansa em trechos sombreados de floresta. Esse descanso é importante: um estudo publicado recentemente mostra que os tamanduás-bandeiras não são muito eficientes em regular sua própria temperatura e precisam dessas áreas protegidas para se resfriarem do calor e se manterem aquecidos em dias de vento e chuva.
O tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), a maior das espécies de tamanduá, é endotérmica como outros mamíferos, ou seja, pode manter uma temperatura corporal constante independente do ambiente. No entanto, os tamanduás-bandeira têm uma das temperaturas corporais mais baixas do que qualquer mamífero placentário, em torno de 32,7 °C (os humanos têm em média 37 °C), além de uma baixa capacidade de termorregulação fisiológica. Portanto, eles precisam contar com ajustes de comportamento para regular sua temperatura.
Uma equipe liderada por Aline da Silva Giroux, principal autora do novo estudo e ecologista da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, descobriu que tamanduás-bandeiras usam manchas florestais como amortecedores térmicos devido às suas condições de microclima mais amenas. As florestas os protegem da chuva e dos ventos frios e, em comparação com as áreas abertas, permanecem mais frescas nos meses de verão e mais quentes nas noites frias.
A importância das manchas florestais
Em 2015, Giroux e sua equipe capturaram, mediram e marcaram com GPS 19 tamanduás selvagens na Estação Ecológica de Santa Bárbara, no estado de São Paulo e, entre 2013 e 2017, na fazenda Baía das Pedras, no Mato Grosso do Sul.
Ao analisar seus padrões de movimento, os pesquisadores concluíram que os tamanduás-bandeiras que vivem em locais com menos cobertura de árvores têm áreas de vida maiores, sugerindo que os animais estão se deslocando mais para acessar fragmentos florestais como refúgio de temperaturas extremas.
Esse comportamento é crucial, pois as mudanças climáticas aumentam a frequência e a intensidade dos eventos climáticos extremos. No ano passado, uma mistura de estiagens prolongadas, ondas de calor e ventos fortes provocou incêndios que destruíram quase 30% do Pantanal – e as queimadas parecem estar seguindo um padrão semelhante este ano. O fogo, somado ao desmatamento, ameaça a sobrevivência de animais que dependem da floresta, como o tamanduá-bandeira.
“Com certeza, muitos animais se perderam nos últimos incêndios”, disse Giroux à Mongabay. “Os tamanduás são animais lentos e com sono pesado. Infelizmente, é comum que eles não percebam o fogo até que esteja muito próximo. Além disso, os animais que sobrevivem certamente estão sofrendo com a perda florestal causada pelos incêndios.
Próximos passos
Devido à suscetibilidade do tamanduá-bandeira às mudanças ambientais, os autores do estudo afirmam que a espécie pode servir como um indicador de estresse ambiental em outros animais. “Acreditamos que os tamanduás-bandeiras podem apresentar alterações de comportamento mais evidentes em resposta às mudanças climáticas, nos dando uma ideia do que acontecerá com outros mamíferos de savana no futuro próximo”, explica Giroux.
O estudo destaca a importância de compreender a necessidade espacial dos animais para orientar estratégias de manejo que podem ajudar a conservar espécies ameaçadas, como o tamanduá-bandeira e suas áreas de ocorrência. Mas Giroux diz temer que as políticas adotadas pelo governo Bolsonaro prejudiquem os esforços de conservação. “O atual governo brasileiro adotou uma política de incentivo ao desmatamento, enfraquecendo as leis de proteção florestal e desmantelando as agências de fiscalização ambiental”, afirma.
Ela compilou ações públicas que promovem a preservação da floresta e os esforços de conservação com foco na proteção de fragmentos florestais dentro da área de vida dos tamanduás para ajudá-los a sobreviver a eventos climáticos extremos. “Esperamos que informações como esta cheguem à população”, salientou Giroux, “para que todos percebam que a vida precisa de florestas”.