Por Alicia Lobato
Amazônia Real
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O Facebook, do conglomerado Meta, foi multado em R$ 10 milhões pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) por expor à venda 2.227 espécimes da fauna silvestre nativa brasileira sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade ambiental competente.
Um dossiê da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), realizado a partir de um estudo científico em parceria com a Universidade de Northumbria, no Reino Unido, serviu como base para a ação do Ibama.
O estudo monitorou grupos no Facebook e no Whatsapp (que também faz parte da empresa Meta), do final de 2020 até o início de 2022. Nesse período, mais de quatro milhões de mensagens foram catalogadas pela instituição para identificar padrões e tendências do mercado ilegal online de animais silvestres no Brasil. Segundo o dossiê, foram registrados 1.682 animais silvestres à venda, e um total de R$ 700 mil movimentados.
A Renctas já havia tentado contato com o Facebook para que as postagens fossem apagadas, denunciando a venda pelos meios oferecidos pela plataforma. Sem ter nenhum retorno, enviou o resultado do dossiê ao Ibama. Foram enviados ao órgão cerca de 500 prints de mensagens no Facebook e 500 prints de mensagens no WhatsApp.
De acordo com Dener Giovanini, coordenador-geral do Renctas, o estudo não foi realizado apenas para fazer a denúncia, mas para entender o panorama atual do tráfico de animais silvestres no Brasil. Ele afirma que muitas vezes os traficantes de animais aproveitam a situação vulnerável de algumas pessoas para conseguir coletar esses animais.
“Utilizam muitas vezes das condições socioeconômicas desfavoráveis das comunidades em regiões de grande diversidade biológica para cooptar as pessoas. Os traficantes compram ou trocam esses animais barganhando comida, roupa. É um problema social que temos na base do tráfico de animais silvestres”, afirma.
Segundo os dados levantados pelo estudo, entre os animais mais comercializados estão os répteis (44%) e as aves (40%). Há também comercialização de espécies exóticas (19%), fato que chama a atenção porque são espécies que não ocorrem naturalmente no Brasil.
As capturas de imagens disponibilizadas pela Renctas mostram animais como araras, aranhas, cobras, corujas e iguanas.
As redes sociais têm sido o principal meio onde os traficantes de animais silvestres atuam, com anúncios feitos em grupos. Os animais são enviados aos compradores por transportadoras particulares ou até mesmo pelos Correios.
Segundo Dener, com a multa a organização aguarda uma mudança de postura do Facebook em relação aos grupos de tráfico de animais. “O comercio ilegal da fauna brasileira é extremamente comum no Facebook e no Whatsapp, então esperamos que tomem as devidas providencias”.
O Renctas monitora atualmente 800 grupos de tráfico de animais silvestres nas duas redes sociais. Esses grupos geram diariamente 15 mil trocas de mensagens. Além disso, quase todos os dias surgem novos grupos especializados na venda ilegal de animais silvestres.
A avaliação é que, por serem grandes vitrines virtuais, as redes sociais impulsionam o tráfico de animais. Por meio delas, os traficantes encontram clientes e ainda se beneficiam do anonimato oferecido pela internet.
A Amazônia Real entrou em contato com o Ibama para saber quais serão as próximas ações do órgão para fiscalizar o tráfico de animais, mas não obteve retorno.
A empresa Meta, em nota enviada à reportagem, informou que ainda não foi notificada formalmente sobre a multa. “Nossas políticas não permitem conteúdo sobre compra, venda, comércio, doação ou oferta de espécies em vida selvagem, e removemos tais conteúdos ou contas associadas a esse comportamento quando tomamos conhecimento deles em nossas plataformas”, diz a Meta.
A empresa disse que usa uma combinação de tecnologia e revisão humana para aplicar as regras e coopera com autoridades locais. “Vale ressaltar que os dados apontados pela reportagem se referem a procedimentos sobre os quais a Meta não foi notificada formalmente até este momento”, finaliza a nota.