E vai começar a temporada de tráfico de papagaios e araras do Cerrado

Como acontece todos os anos, o Cerrado brasileiro começará a ser palco de mais uma temporada de tráfico de papagaios e araras. O início do período reprodutivo dessas aves atrai os bandidos, que coletam os filhotes para envio aos grandes centros urbanos do país. Serão milhares de animais retirados da natureza para serem criados, criminosamente, como bichos de estimação por pessoas “de bem”.

E assim será até o final do ano.

Uma das regiões mais atacadas está no Mato Grosso do Sul, nos municípios que fazem divisa com São Paulo. Nas matas e propriedades rurais de Jateí, Batayporã, Bataguassu, Ivinhema, Novo Horizonte do Sul, Anaurilândia, Santa Rita do Pardo, Nova Andradina, Brasilândia, Naviraí e Mundo Novo, uma quantidade absurda de recém-nascidos papagaios-verdadeiros (Amazona aestiva) será retirada dos ninhos (cavidades das bocaiúvas e dos jerivás, palmeiras nativas da região), colocada em caixas e sacos e levada em porta-malas de carros, caminhões e ônibus para as regiões metropolitanas de São Paulo e do Rio de Janeiro, além dos Estados do Sul.

Em reportagem que o Fauna News detalhou esse tráfico, o presidente da ONG SOS Fauna, Marcelo Pavlenco Rocha, que há décadas acompanha o tráfico dos papagaios-verdadeiros do Cerrado, destacou que mais de doze mil filhotes da espécie chegam anualmente na Região Metropolitana de São Paulo para abastecer o comércio ilegal.

Entendeu o porquê afirmamos ser absurda a quantidade de aves traficadas. Doze mil somente para São Paulo.

E somente uma quantidade mínima é apreendida durante as ações de fiscalização. A PM Ambiental do Mato Grosso do Sul fez, durante esse período, operações nas áreas de captura para tentar coibir a ação dos traficantes. Mas o trabalho desenvolvido não é suficiente.

Combate ao tráfico de fauna não é prioridade no Brasil

Na realidade há um total descontrole do poder público sobre o tráfico de fauna.

Já há indícios de que a população de papagaios-verdadeiros pode estar sofrendo com uma retirada tão constante de animais pelo comércio ilegal. Traficantes de fauna, inclusive, têm ido coletar filhotes no Cerrado do Piauí e do Maranhão – uma nova rota que tem se estabelecido faz poucos anos.

A pesquisadora e coordenadora do Projeto Papagaio-verdadeiro, Gláucia Helena Fernandes Seixas, desde 1997 se dedica a estudar a espécie e a mobilizar a sociedade para combater o tráfico dessas aves no Mato Grosso do Sul, onde atua. Entretanto, falta o fundamental apoio do poder público para melhorias na legislação, fiscalização e, principalmente, nas ações de conscientização desestimulando as pessoas a criarem animais silvestres como bichos de estimação.

Enquanto se vive nesse limbo de ausência de políticas públicas para combater o tráfico de fauna, papagaios e araras do Cerrado serão atacados todos os anos até serem extintos.

É isso que queremos?