Iago Mattos
Reportagem
Jornalista formada pela Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), com atuação nas áreas de podcast, telejornalismo e sites. Natural de Pelotas (RS).
O caseiro de um rancho de pesca foi morto segunda-feira (21 de abril) por uma onça-pintada (Panthera onca) na região conhecida como Touro Morto, no município de Aquidauana, no Pantanal sul-mato-grossense. Partes do corpo de Jorge Avalo, de 60 anos, foi localizado na manhã de ontem por uma equipe da Polícia Militar Ambiental (PMA) e de voluntários.
Jorge residia sozinho em um rancho de pesca junto do rio Miranda. Seu desaparecimento foi percebido por um guia de pesca que foi à residência dele em busca de mel. Sem sinal do caseiro, ele encontrou vestígios de sangue em uma passarela e pegadas de onça. As evidências foram imediatamente reportadas à Polícia Militar Ambiental e vídeos com imagens do local se espalharam nas redes sociais.
Os policiais chegaram à região ainda na segunda-feira, após duas horas de deslocamento por rio. Confirmados os indícios de um possível ataque de onça-pintada, um delegado da Polícia Civil e o perito criminal foram levados de helicóptero ao local. As buscas seguiram até o final do dia e foram retomadas na manhã seguinte.
A cintura com as pernas de Jorge foi encontrada a cerca de 280 metros do rancho, em um capão de mato com sinais evidentes da presença de um grande felino. De acordo com o biólogo Gustavo Figueiroa, do Instituto SOS Pantanal, “não temos dúvidas mais, foi um ataque. A onça atacou o homem como uma presa e o carregou até um lugar mais tranquilo, mais isolado. A Polícia Militar chegou a encontrar a onça no local, a mesma esboçou ir para cima da equipe, porém foi afugentada”.
O caso está sob investigação da Polícia Civil. Várias são as hipóteses para tentar explicar o ataque, como comportamento territorial, escassez de alimento, período reprodutivo do animal ou uma reação instintiva da vítima. Segundo Gustavo, “não se tem certeza das circunstâncias desse ataque, pois é cedo para afirmar algo. Uma das hipóteses é que essas onças da região estejam acostumadas com ceva. Não estou dizendo que o pesqueiro ali cevava, mas naquela área existem muitas denúncias de ceva, como já foi exposto pela Polícia Militar Ambiental”.
A ceva – prática de ofertar alimento para um animal selvagem com a intenção de permitir a aproximação de pessoas – é um tipo condicionamento que pode alterar profundamente o comportamento de felinos silvestres. Como alerta o biólogo e pesquisador da ONG Panthera, Fernando Tortato, “se você condiciona o animal (onça-pintada), se ele perde o medo das pessoas, isso aumenta o risco.”
“Mas se pensarmos em estatísticas, os ataques de onças-pintadas a pessoas são raros. Na grande maioria dos casos, são ataques provocados — ou seja, o animal foi perseguido, caçado, e então reagiu. Existem também casos em que a pessoa não provocou e a onça atacou, mas são muito raros”, explica Fernando.
A área onde ocorreu a tragédia é de difícil acesso e abriga uma fauna silvestre diversa. A propriedade tinha câmeras de segurança, que estavam inoperantes no momento do ataque. Em nota oficial, a Polícia Militar Ambiental reforçou o alerta sobre os riscos e ilegalidades da prática da ceva, que é proibida.
Em 2023, a região já foi monitorada por conta da presença de uma onça-pintada macho adulto nas proximidades do Morro do Azeite, ocasião em que foram instaladas placas de advertência sobre os perigos da ceva.