As primeiras apreensões da temporada de tráfico de filhotes

E como previsto, a temporada de tráfico de filhotes papagaios e araras começou no Cerrado. Em Goiás, no dia 6 de setembro, três homens foram presos transportando 10 pequenas araras (espécie não divulgada) e ontem, 17 de setembro, um casal foi surpreendido por policiais com 79 papagaios-verdadeiros (Amazona aestiva) no Mato Grosso do Sul.

Setembro marca o início do período de nascimentos de papagaios e araras no Cerrado. Até dezembro, os filhotes serão alvo de traficantes de fauna que coletam as pequenas aves de seus ninhos e as enviam para centros urbanos, onde serão vendidas como bichos de estimação.

São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná recebem a maioria dessas aves. Mas há farta distribuição também para cidades do Centro-Oestre e Nordeste. Em reportagem do Fauna News de 2020, o presidente da ONG SOS Fauna, Marcelo Pavlenco Rocha, que há décadas acompanha o tráfico dos papagaios-verdadeiros do Cerrado, destacou que mais de doze mil filhotes da espécie chegam anualmente na Região Metropolitana de São Paulo para abastecer o comércio ilegal.

Araras de Goiás

“O Batalhão de Polícia Militar Ambiental prendeu dois suspeitos de tráfico de animais silvestres, na quarta-feira (6). De acordo com a corporação, os filhotes de arara estavam em um ônibus que vinha de Tocantins para o Goiás.

Os animais eram transportados em uma caixa e estavam machucados, sem nenhuma condição adequada para o transporte e saúde das aves. O motorista do ônibus e o receptador foram abordados no momento da entrega dos animais.” – texto da matéria “PM prende suspeitos por tráfico de filhotes de arara em Goiás”, publicada em 7 de setembro pelo portal Mais Goiás

Papagaios do Mato Grosso do Sul

“Durante operação de fiscalização ambiental desencadeada pela Operação Bocaíuva, uma equipe da PMA (Polícia Militar Ambiental) abordou casal entre as rodovias MS-141 e MS-473, em Nova Andradina (a 298 km de Campo Grande) e apreendeu 79 filhotes de papagaio neste domingo (17).

O casal é do interior paulista e se deslocava em veículo com placas de Mirante do Paranapanema (SP). Os animais variavam em tamanhos e estavam acomodados em uma caixa artesanal de madeirite, com dimensões de 1,25 metro de comprimento, 0,46 metro de largura e 0,12 metro de altura. A caixa estava coberta com uma capa de tecido, simulando ser o banco traseiro do veículo.

Ao ser questionados sobre a origem das aves, o casal alegou tê-las adquirido de uma pessoa desconhecida, em Angélica, por R$ 10 mil. O destino final era Presidente Venceslau (SP), onde receberiam, após a entrega, R$ 13 mil.” – texto da matéria “Policiais interceptam tráfico de animais e apreendem 79 filhotes de papagaio”, publicada hoje, 18 de setembro, pelo portal Campo Grande News

Fiscalização ineficiente

É fato que somente uma pequena quantidade de papagaios e araras retirados dos ninhos pelos traficantes é apreendida pelos órgãos de fiscalização. A gigantesca maioria chega até as cidades. Os filhotes serão vendidos e passarão os restos de suas vidas na casa de pessoas que os criarão presos, com alimentação inadequada e jamais saberão o que é ser um papagaio ou arara de verdade. Não voarão, não terão parceiros para se reproduzir e socializar, não poderão escolher o que comer.

A crueldade está em que trafica e em quem compra para criar.

O crime vai além. A retirada dessas aves está causando desequilíbrio nos ecossistemas de origem delas. Papagaios e araras têm funções ecológicas, contribuem para a saúde do Cerrado.

O crime não se restringe ao animal, mas ao planeta.

E, por incrível que pareça, o poder público ainda tratam esse crime com desdém. Não investe em educação ambiental para reduzir demanda, não aprimora legislação, não melhora fiscalização e não mantém infraestrutura decente para atender animais apreendidos.

O país de maior biodiversidade do mundo é também o país do “faz de conta” do combate ao tráfico de fauna.