Anta monitorada em área urbana morre atropelada em MS

A primeira anta (Tapirus terrestris) monitorada pelo projeto Antas Urbanas, desenvolvido pela Iniciativa Nacional para a Conservação das Antas Brasileiras, do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas (Incab-IPÊ), foi encontrada morta no final de janeiro de 2025. E o motivo foi uma tragédia anunciada: o animal foi vítima de atropelamento na BR-163, rodovia que corta a capital de Mato Grosso do Sul, Campo Grande. O anúncio da morte do animal foi feito dia 19.

Duro-de-Matar era uma anta conhecida dos campo-grandenses que costumavam frequentar o bairro Parque dos Poderes. Seu nome foi dado pela equipe da Incab, que o monitorava desde 2022, em alusão ao filme de 1988 de mesmo nome.

Sua história na capital de Mato Grosso do Sul começou, também, de forma triste. Duro-de-Matar chegou ao Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (Cras) em 2021, após ter sido capturado por um laço, técnica utilizada por caçadores de animais silvestres, em uma fazenda próxima à cidade, e teve uma de suas patas dianteiras parcialmente decepada. Após 90 dias de tratamento, ele fugiu do Cras, que está localizado em uma área próxima a um parque estadual e por ali permaneceu, sempre sendo visto nas imediações do local.

Esse indivíduo tinha uma importância gigante como embaixador para a conservação da anta brasileira em todo o nosso país”, comentou a coordenadora da Incab-IPÊ, Patricia Medici. A equipe Incab trabalha com a espécie há quase 30 anos e por todo o país.

Rodovias de MS: problema de décadas

De acordo com relatos, Duro-de-Matar morreu por atropelamento no final de janeiro na BR-163. O corpo do animal foi localizado próximo de um canteiro de obras para a construção de um viaduto. A identificação correta dele só foi concluída em 19 de fevereiro, praticamente um mês após sua morte. Pesquisadoras da Incab localizaram o corpo do animal, que já havia sido enterrado pela concessionária responsável pela rodovia, e a identificação ocorreu por meio da análise de sua arcada dentária.

A morte de um animal tão icônico não só para o município, mas para a sensibilização de pessoas sobre a importância da anta na natureza e da coexistência humano-fauna, deixou ainda mais latente a grave situação das colisões veiculares com animais silvestres na região, um impacto que coloca em risco a conservação de diversas espécies nativas. Conforme dados coletados pela Incab-IPÊ ao longo de sete anos de pesquisa, 100 antas são atropeladas por ano nas rodovias de Mato Grosso do Sul.

O número também demonstra que, ao menos, 100 vítimas humanas se envolveram em colisões com um animal de grande porte, já que uma anta pode atingir de 250 a 300 quilos. Nos últimos 12 anos, 50 pessoas morreram nas rodovias sul-mato-grossenses por conta de colisões com antas.

Ações de sensibilização 

Duro-de-Matar tornou-se um símbolo na cidade de Campo Grande por transitar muito tranquilamente, mancando, por conta da lesão em sua perna, e frequentemente era visto por moradores e frequentadores do bairro Parque dos Poderes e do Parque das Nações Indígenas – uma área verde da prefeitura. Ele já foi tema de notícias e seu avistamento sempre chamava atenção da população.

Observamos em nosso dia-a-dia a necessidade urgente de conectarmos as pessoas com a natureza e com a conservação de espécies ameaçadas. A anta, em particular, é um animal associado pejorativamente com a falta de inteligência e embaixadores como o Duro-de-Matar são imprescindíveis” completou Patricia Medici.

A partir de hoje, a Incab irá lançar um movimento em sua página do Instagram pedindo para a população compartilhar relatos e registros de Duro-de-Matar. A ideia é formar uma corrente virtual de sensibilização pela importância da anta na natureza, além de alertar sobre a necessidade de assegurar rodovias mais seguras para a fauna e humanos.

Segunda captura do Duro-de-Matar, em 2023. Pesquisadoras faziam avaliações constantes para saber o estado de saúde do animal – Vídeo: Incab-IPÊ