A anta não está extinta na Caatinga

Registros de quatro populações indicam que a espécie não está extinta no bioma.

Isabella Baroni
Reportagem e edição de textos

Nascida em Jundiaí (SP), é bióloga pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e estudante de Jornalismo pela Universidade Cruzeiro do Sul, o que permite integrar seus trabalhos em educação ambiental com a comunicação.
Atuou em projetos voltados à conservação do mocho-dos-banhados no município de Americana (SP), da onça-pintada no Contínuo do Paranapiacaba (SP), da anta em São Miguel Arcanjo (SP), além da relação da sociedade com a natureza na Reserva Biológica Municipal Serra do Japi em Jundiaí e Capão Bonito e região.
Atualmente reside em Campo Grande (MS).
Sua paixão pelo jornalismo ambiental surgiu em meio à Rio+20, enquanto participava da Cúpula dos Povos e acompanhava os debates internacionais sobre o clima e Amazônia.

14 de abril de 2025

FAUNA NEWS A anta não está extinta na Caatinga

Pesquisadoras da Iniciativa Nacional para a Anta Brasileira do Instituto de Pesquisas Ecológicas (Incab-Ipê) finalizaram a terceira expedição pela Caatinga com uma boa notícia: há populações de antas vivendo no bioma. Evidências da existência de quatro populações da espécie foram encontradas na Bahia e no Piauí.

Durante três anos consecutivos, 2023, 2024 e 2025, a equipe, liderada por Patrícia Medici, percorreu diversas localidades da Caatinga em busca de relatos e vestígios da presença da anta-brasileira (Tapirus terrestris). Em 2012, 13 anos atrás, a declaração de que a espécie estava extinta no bioma foi baseada em pouquíssimos dados existentes na época.

As expedições investigaram regiões da Caatinga no norte de Minas Gerais, oeste da Bahia e sul do Piauí, em busca de relatos de moradores e vestígios que constatassem a presença da espécie.

Esta última expedição, portanto, conseguiu reunir evidências consistentes da ocorrência da anta no bioma: duas potenciais populações foram encontradas a oeste da Bahia e duas ao sul do Piauí. Com essas novas descobertas, a equipe da Incab-Ipê pretende se estabelecer na Caatinga para dar seguimento a pesquisas mais aprofundadas.

Ameaças à anta na Caatinga

Durante a primeira expedição ao bioma, em 2023, as pesquisas foram amplamente baseadas em entrevistas com moradores locais, em grande parte idosos que tivessem lembranças e relatos de seus antepassados. O objetivo da estratégia era resgatar a memória das pessoas sobre o animal no bioma.

O resultado foi interessante: além de conseguirem retroceder cerca de 400 anos, foi possível saber que a espécie ocorria em regiões mais centrais, como na Chapada Diamantina, na Bahia. O motivo da redução populacional e do desaparecimento da espécie desses locais foram a perda de hábitat, caça e diminuição da disponibilidade de água.

Já, a expedição de 2025 mostrou que as principais ameaças que seguem impactando a ocorrência na anta na Caatinga são a caça, o fogo (queimadas) e a crise climática.

Nova recategorização nas listas de espécies ameaçadas

Os achados da equipe permitirão ampliar o debate sobre o status de conservação da anta na Lista Oficial de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, que será reavaliada este ano.

Além disso, também em 2025, será realizado o segundo ciclo do Plano de Ação Nacional (PAN) de Ungulados Ameaçados de Extinção, grupo que inclui a anta, porcos-do-mato e veados. As informações coletadas pelas pesquisadoras da Incab-Ipê serão imprescindíveis para que se estabeleça novas estratégias de conservação.

“Uma extinção local, para qualquer espécie, é uma situação muito séria. Declínios populacionais e extinções locais apontam para o comprometimento do estado de conservação de uma dada espécie. Os dados coletados durante as nossas expedições em 2023, 2024 e 2025 trouxeram evidências robustas de que a anta não está extinta na Caatinga. Sabemos que devem ter ocorrido declínios populacionais importantes, mas tudo aponta para o fato de a anta nunca ter se extinguido de fato na região”, avaliou a coordenadora da Incab-Ipê, Patrícia Medici.

Sobre o autor / Isabella Baroni

Nascida em Jundiaí (SP), é bióloga pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e estudante de Jornalismo pela Universidade Cruzeiro do Sul, o que permite integrar seus trabalhos em educação ambiental com a comunicação. Atuou em projetos voltados à conservação do mocho-dos-banhados no município de Americana (SP), da onça-pintada no Contínuo do Paranapiacaba (SP), da […]