Triângulo da exposição na fotografia de vida selvagem

Olá, como vai? Estou de volta com um tópico extremamente técnico da fotografia. vou novamente comentar sobre luz e discutir um pouco sobre o triângulo da exposição, abordando como equilibrá-lo nas diferentes situações que a natureza e a vida selvagem nos colocam.

O triângulo da exposição é o conjunto das três principais configurações da câmera que definem a quantidade de luz que “desenhará” sua imagem: a abertura do diafragma, a velocidade do obturador e o ISO. Alterando qualquer uma dessas três pontas do triângulo, a exposição resultante da sua foto aumenta ou diminui, necessitando ajustar as outras duas pontas (na maioria das vezes) como consequência para alcançar o equilíbrio.

O diafragma é uma peça das lentes que controla a passagem de luz através delas. Sua abertura é medida como f/“X”, sendo que quanto maior o “X”, menor é a abertura (e a passagem de luz) e vice-versa. Além disso, a abertura do diafragma também é responsável por definir a profundidade de campo da imagem, isto é, a quantidade de planos focados. Neste caso, quanto menor o “X”, menor a profundidade de campo. Porém, discutiremos melhor isso na semana que vem, em um artigo 100% voltado para o foco.

Já o obturador é uma peça da câmera cujo papel é abrir e fechar a passagem da luz para o sensor no instante do clique. Sua velocidade é medida em segundos e frações de segundo (2s, 1/200s, 1/1500s,…). Portanto, quanto maior o tempo que o obturador se abre para o sensor (ou menor a velocidade), maior será a quantidade de luz que o atinge. Simultaneamente, enquanto a câmera está captando essa luz ela também está captando tudo o que for movimento dentro do frame. Logo, quanto maior o período de abertura do obturador, mais movimentos serão gravados, possivelmente resultando em fotos borradas. Para congelar o movimento, algo essencial na fotografia de animais, o recomendado é quase sempre utilizar velocidades mais rápidas, mantendo a nitidez.

Por fim, o ISO (significa International Organization for Standardization, mas não se preocupe, quase ninguém se refere a ele assim) é, nas câmeras modernas, uma característica ajustável dos sensores em relação à sensibilidade deles à luz. Nas câmeras analógicas, ele representa a sensibilidade dos diferentes tipos de filmes, que acabavam limitando em uma só opção de ISO para todas as fotos feitas neles depois de comprá-los. Basicamente, quanto maior o número do ISO, maior a sensibilidade do sensor e mais clara fica a imagem. Contudo, o excesso de sensibilidade pode causar ruído, algo não muito agradável na fotografia (lembrando que ruído é diferente do efeito artístico “granulado”). O ideal é tentar sempre fotografar com o menor ISO possível, mas atualmente existem muitas maneiras de reduzir o ruído digitalmente durante a pós produção de maneira quase imperceptível (algo que já comentei no meu artigo sobre edição).

O modo automático da câmera analisa a luminosidade ambiente e configura as três pontas do triângulo por conta própria a fim de deixar a exposição equilibrada. Para aqueles que desejam aprender e melhorar na fotografia, esse modo deve ser evitado a todo custo, já que a câmera estará fazendo todo o trabalho por você (além de que muitas vezes os resultados serão insatisfatórios). Porém, migrar diretamente para o modo manual (no qual o fotógrafo controla os três pilares) pode ser um pouco complicado logo de primeira. Para isso, existem modos intermediários ótimos para realizarem essa transição de forma gradativa, como o Av/A (câmera controla a velocidade do obturador e fotógrafo a abertura do diafragma e o ISO), o Tv/S  (câmera controla a abertura e fotógrafo a velocidade e o ISO) e o P (câmera controla velocidade e abertura e fotógrafo o ISO). Uma observação: as siglas se referem aos modelos da Canon, enquanto as da direita aos da Nikon. O modo P é igual em ambas as marcas.

A configuração ideal que costumo utilizar é deixar a câmera no modo manual e somente com o ISO automático, porém com uma opção que eu escolho um limite máximo para ele, justamente para evitar o ruído. Esse limite varia de acordo com o modelo da câmera e do sensor, então experimente tirar várias fotos em um ambiente com luz equilibrada, aumentando o ISO em cada uma delas até que o ruído comece a aparecer.

Se você aguentou essa aulinha um pouco chata com muitos números e siglas até aqui, chegou a parte mais legal. Vamos ver como aplicamos o equilíbrio do triângulo da exposição para diferentes animais na fotografia de vida selvagem, destacando a importância de conhecer o comportamento e a biologia das espécies para já deixar sua câmera configurada com antecedência.

Velocidade do obturador

Como dito anteriormente, essa configuração talvez seja a mais importante para conseguir fotos nítidas de animais. Por serem seres vivos selvagens, não temos nenhum controle sobre as ações deles enquanto fotografamos. Na maioria dos casos, eles estarão se mexendo bastante e dificultando o seu trabalho. Porém, diferentes espécies possuem variadas estratégias de proteção (fuga, esconderijos, camuflagem etc.) e diferentes velocidades de movimento, forçando uma adaptação ágil tanto do fotógrafo, quanto do equipamento.

Uma boa velocidade do obturador para andar com a câmera por aí é por volta de 1/400s (dependendo da quantidade de luz natural, pode ser um pouco menor). Acredito que abaixo disso quase toda foto vai acabar saindo um pouco borrada (até por conta do vento movimentando a própria vegetação). Para animais mais lentos (mamíferos pastando ou andando, aves que voam planando, répteis, etc.) ou que estejam parados, é possível congelar perfeitamente a imagem com essa velocidade com uma boa consistência.

Já para animais mais ariscos ou que estejam se movimentando com mais rapidez (animais correndo/fugindo, aves de voo rápido, animais mais hiperativos como macacos etc.), é recomendado deixar a velocidade em no mínimo 1/800s, aumentando ela ainda mais de acordo com a situação. Também é possível utilizar velocidades abaixo disso com uma finalidade artística, borrando a foto de propósito para dar a sensação de que o animal é extremamente veloz (muitos fotógrafos de esportes utilizam essa técnica).

• Lembrete n° 1: sempre segure a câmera com firmeza. Os movimentos do seu corpo e até sua respiração podem causar borrões quando estiver utilizando velocidades mais lentas.
• Lembrete n° 2: quanto mais rápida a velocidade, menos luz entrará no sensor. Não se esqueça de equilibrar as outras duas pontas do triângulo e analisar a luminosidade ambiente. É muito mais fácil utilizar velocidades altas em ambientes abertos e bem iluminados do que em uma mata fechada, por exemplo.

Abertura do diafragma

Essa configuração dependerá bastante do seu estilo. Se você tem preferência pelos retratos (assim como eu), o ideal é quase sempre utilizar grandes aberturas (f/5.6, f/4 > f/x etc.), deixando bastante luz entrar na lente e desfocando bem o fundo para destacar o assunto. Isso também permite o uso de velocidades maiores e ISO menores para a maior nitidez possível.

Por outro lado, se você gosta de incluir outros elementos e/ou a paisagem que estejam em planos diferentes, terá que utilizar aberturas menores (f/8, f/11, f/16 etc.) e equilibrar a exposição diminuindo a velocidade do obturador ou aumentando o ISO.

Vale lembrar que as aberturas mínima e máxima são definidas pelo modelo das lentes e variam com a distância focal (zoom) delas. Portanto, veja o que seu equipamento possibilita e extraia o melhor dele (ou leve isso em consideração na hora de comprar uma nova lente). Normalmente, quanto maior a distância focal de uma lente menor será sua abertura mínima. Faz sentido, pois quanto maior o tamanho da lente, maior o caminho que a luz terá que percorrer até chegar ao sensor (por isso que grandes lentes teleobjetivas às vezes são chamadas de lentes escuras). Veja de exemplo a minha lente, uma “70-300 mm f/4-5.6”, o que significa que em 70 mm a abertura mínima dela será f/4 e em 300 mm f/5.6. As lentes que são extremamente caras se “justificam” por permitirem aberturas menores em grandes distâncias focais (como uma 400 mm f/2.8 que custa cerca de R$ 70 mil, na promoção…).

O ISO

Se você estava sentindo falta de um tópico para o ISO, não se preocupe: é a configuração mais fácil na minha opinião, por isso não vi necessidade de me estender muito além do que já comentei no artigo. Apenas lembre que ISO’s exageradamente altos para o seu sensor geram ruído, o que não é nada bom. Porém, aumentá-lo de forma controlada em situações de pouca luz (dias mais nublados, anoitecer, mata fechada etc.) pode ajudar você a salvar muitas fotos, mas sempre com o auxílio dos outros dois pilares.

Lembro que quando aprendi pela primeira vez sobre o triângulo da exposição, minha cabeça explodiu – tanto pela dificuldade de aprender no começo quanto pelas novas possibilidades que esse conhecimento me proporcionou. Com o tempo, fui aperfeiçoando minha “memória luminosa” e hoje em dia já sei como configurar minha câmera antes mesmo de sair de casa, de acordo com o dia que está lá fora, mas ainda assim continuo refinando algumas coisas a cada saída.

Espero que tenha curtido o artigo de hoje e que possa ter aprendido alguma coisa nova.

Na próxima semana, discutiremos quase tudo que envolve o foco na fotografia de vida selvagem. Abraço!

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