Vigilância da raiva em morcegos é importante para o Cerrado

A maioria dos morcegos são importantes supressores de pragas por conta de sua predação, com algumas espécies também desempenhando papeis importantes como polinizadores e dispersores de sementes em hábitats do cerrado goiano. Além disso, os morcegos polinizadores também desempenham um função importante na produção de espécies vegetais que têm um grande impacto econômico na agricultura, como na produção de milho, arroz, cacau, algodão, frutas, batatas. A BBC News menciona que os morcegos valem mais de US$ 1 bilhão por todos esses serviços ecossistêmicos. Poucas espécies de morcegos se alimentam de néctar e pólen, requerendo uma morfologia relativamente especializada (focinhos e línguas longas, por exemplo), enquanto outras são principalmente frugívoras.

Os morcegos são reservatórios naturais para uma ampla gama de vírus, incluindo muitos vírus zoonóticos importantes que causam doenças graves em humanos e animais domésticos. É o caso da raiva, ebola, Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars) e do Oriente Médio (Mers). Vimos recentemente, por causa da pandemia causada pelo SARS-CoV-2, reacender a visão negativa que muitas pessoas têm dos morcegos. Entre as zoonoses já observadas nesses animais, a raiva é, sem dúvida, a que mais preocupa as autoridades de saúde pública, visto que sua letalidade é de 100%.

O vírus da raiva apresenta diferentes variantes, das quais quatro já foram encontradas no país: variante 2, própria dos cães; variante 3, própria do morcego hematófago Desmodus rotundus; variante 4, própria do morcego insetívoro Tadarida brasiliensis; e variante 6, própria do morcego insetívoro Lasiurus cinereus.

Transmissão da raiva por animais domésticos

Atualmente, a doença tem sido transmitida através do “ciclo aéreo”, no qual os morcegos, hematófagos ou não, mantêm a circulação do vírus entre animais domésticos de estimação, como cães e gatos, e animais domésticos de interesse econômico, como bovinos e equinos. Por essa razão, realiza-se vigilância passiva de morcegos como uma importante atividade de vigilância desse problema.

A patogenia da raiva em morcegos é pouco conhecida. O mais importante a considerar é o fato de que o morcego pode albergar o vírus rábico em sua saliva e ser infectante antes de adoecer por períodos maiores que os de outras espécies. Pode ocorrer uma fase de excitabilidade seguida de paralisia, principalmente das asas, o que faz com que estes animais deixem de voar. Alguns registros de raiva em morcegos referem raiva furiosa típica (com paralisia e morte); raiva furiosa e morte sem paralisia; e raiva paralítica típica e morte.

Na forma clássica, a transmissão do vírus rábico através dos morcegos ocorre por espécies hematófagas, que transmitem a doença prioritariamente para herbívoros e também para humanos. Outras espécies não-hematófagas infectam-se através de diferentes interações com os morcegos hematófagos portadores do vírus rábico, incluindo a disputa de territórios e podem também transmitir acidentalmente a enfermidade, através do contato direto à espécie humana e a outros animais.

Para o Brasil, em geral, os morcegos hematófagos constituem o principal reservatório silvestre do vírus da raiva, considerados a segunda ordem responsável pela transmissão da raiva humana.

No início deste ano, Goiânia já registrou o primeiro caso de morcego positivo para raiva. O animal da espécie Eptesicus diminutus, que se alimenta de frutas, foi encontrado morto na região norte da capital. No ano passado, 16 morcegos frugívoros e seis Nyctinomops aurispinosus, insetívoros foram encontrados mortos no município, demonstrando a importância desse estudo para conservação dos morcegos frugívoros e insetívoros, que são bastante importantes para a manutenção do Cerrado.