
Por Yuri Marinho Valença
Biólogo, mestre em Biologia Animal pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). É coordenador do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) Tangará da Agência Estadual de Meio Ambiente de Pernambuco (CPRH), em Recife, e coordenador técnico do projeto de reabilitação, soltura e monitoramento de papagaios-verdadeiros intitulado de Projeto Papagaio da Caatinga
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No dia 16 de dezembro de 2019, a Agencia Estadual de Meio Ambiente de Pernambuco (CPRH) completou 43 anos e como presente maior houve a aquisição do prédio onde está instalado o Centro de Triagem de Animais Silvestres Tangará – nome que homenageia uma espécie de passeriforme ameaçada de extinção e que só ocorre na mata atlântica do centro de endemismo de Pernambuco.
O Cetas Tangará da CPRH foi inaugurado em dezembro 2016 em imóvel alugado, onde já passaram nesses três anos de funcionamento cerca de 3 mil animais. Desde o início do funcionamento do centro se iniciou o processo de aquisição do terreno e o termo de desapropriação saiu em 2017, sendo consolidado agora com o pagamento da indenização ao antigo dono.
O terreno possui 3,6 hectares de área construída, onde se localizava o antigo criadouro conservacionista chamado Chaparral. Esse criadouro trabalhava exclusivamente com aves e mantinha a maior coleção de cracídeos (animais conhecidos popularmente como mutum, jacu e aracuã) do Brasil. Nele também havia a reprodução das ararinhas-azuis (Cyanopsitta spixii). Porém, o empreendimento foi fechado pelo Ibama há cerca de vinte anos devido a irregularidades em sua funcionalidade. Ele também foi indiciado na época na CPI nacional do tráfico de animais silvestres que apurou grandes crimes relacionados ao tráfico de animais silvestres, apesar de ninguém ter sido condenado.
A compra de um terreno adequado para o Cetas é uma luta iniciada bem antes da CPRH assumir a gestão de fauna no estado de Pernambuco. O centro, quando funcionava na sede do Ibama, foi construído com uma estrutura prevista para uma realidade do ano de 1985, em que a quantidade de animais apreendidos era bem menor e o conhecimento técnico sobre triagem, reabilitação e soltura nem engatinhava ainda. Era algo altamente prematuro e essa estrutura inicial nunca foi expandida, apesar de a demanda só aumentar.
Os centros de triagem de animais silvestres no Brasil, desde sempre, sofrem com a omissão, pois a pauta do trabalho é complexa e incansável. Com isso, é fácil ver alguns descasos na manutenção e infraestrutura. E não era diferente com o Cetas de Pernambuco, que por vários anos tentava conseguir uma nova estrutura, porém sem grandes êxitos.
Por mais que se tivessem projetos bem elaborados, sempre se esbarrava na burocracia do processo e na falta de disponibilidade de áreas com capacidade de suporte ideal.
Contudo, fica evidente que essa conquista é essencial para uma melhor forma de conservar a fauna e corrigir os efeitos do crescimento urbano desordenado e os do tráfico de animais silvestres, que vem crescendo a cada ano em progressão geométrica. Ano após ano, os números de apreensões e atendimentos aumentam e seguem na direção de o ambiente não mais se recuperar de tal degradação, sendo o Cetas um local para minimizar esses efeitos.