Uma tentativa de monitorar o tráfico de animais

Dimas Marques
  • Dimas Marques

    Editor-chefe

    Formado em Jornalismo e Letras, ambos os cursos pela Universidade de São Paulo. Concluiu o curso de pós-graduação lato sensu “Meio Ambiente e Sociedade” na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo com uma monografia sobre o tráfico de fauna no Brasil. É mestre em Ciências pelo Diversitas – Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, onde pesquisou a cobertura do tráfico de animais silvestres por jornais de grande circulação brasileiros. Atua na imprensa desde 1991 e escreve sobre fauna silvestre desde 2001.

    Fauna News
24 de agosto de 2011
Ter a dimensão e dados precisos do tráfico de animais silvestres é muito difícil. Afinal, como qualquer outra atividade ilícita (como o tráfico de drogas e o contrabando de armas), esse tipo de controle acaba sempre sendo parcial e feito baseado em estimativas.

Normalmente, os números de apreensões de animais e seus subprodutos (garras, peles, penas, e tantos outros) são os indicativos mais comuns que ajudam a conhecer a abrangência do tráfico de fauna. Mesmo assim, a falta de organização e centralização com os dados impede um dimensionamento adequado.

Para tentar melhorar esse contexto, a Universidade de Twente, na Holanda, lançou em julho o banco de dados Wildlife Enforcement Monitoring System (WEMS – sistema de reforço no monitoramento da vida selvagem). “O problema era que, em termos de comércio ilegal de animais, não havia nenhum sistema no qual os países pudessem reunir, analisar e trocar informações. Com o Wildlife Enforcement Monitoring System isso agora é possível”, disse indiano Remi Chandran, pesquisador vinculado à Universidade de Twente – texto da matéria “Tecnologia holandesa no combate ao tráfico de animais”, publicada em 19 de agosto de 2011 pelo site da Radio Nederland Wereldomroep

Inicialmente o sistema foi implantado nos vizinhos africanos Uganda, Tanzânia e Quênia, mas a intenção de Chandran é conseguir a adesão do maior número de países possível. “Depois talvez seja a vez da Ásia. Isso não será fácil porque muito comércio ilegal vai justamente pra lá. Por isso países asiáticos talvez não estejam tão abertos a trabalhar com o WEMS”, acredita Chandran. – texto da matéria da rádio holandesa

O comércio ilegal da África para os países asiáticos cresceu muito nos últimos anos. E os rinocerontes são os que mais têm sofrido. Seus chifres são levados principalmente para a China. O mesmo acontece com os elefantes, por causa do marfim (suas presas).

“Frequentemente há grandes grupos com muito dinheiro e poder por trás. Os preços do marfim são tão altos para que se possa voar rapidamente com um helicóptero a um parque na África do Sul, pegar o marfim e depois ainda voltar com um jatinho particular para a China. E mesmo assim ainda há um grande lucro.” – texto da matéria da rádio holandesa


Presas de elefantes africanos apreendidas na Tailândia

Foto: Sakchai Lalit/ AP

Só na África o volume do comércio ilegal de marfim cresceu de 2005 a 2010 de 620 quilos para 5,6 toneladas, segundo dados do Kenya Wildlife Service. Outras espécies também são vítimas, veja:

“Na internet pode-se encontrar pele de animais ameaçados à venda por grandes somas, inclusive em sites de leilão.

Segundo o jornal indiano The Hindustan Times, a pele de tigre custa 124 mil dólares e um tigre empalhado 700 mil dólares. Pele de pantera pode chegar de 100 a 300 mil dólares.” – do site da rádio holandesa

“Trata-se, por exemplo, de que animais, e quantos, foram apreendidos e onde isso aconteceu. Os dados são postos no sistema e podem ser consultados imediatamente. Desta maneira será mais fácil mapear as rotas de contrabando entre vários países e prevenir o tráfico.” – texto da matéria da rádio holandesa

Aproveito a oportunidade para apresentar alguns números que podem ajudar a contextualizar um pouco o tráfico de animais silvestres (incluindo seus subprodutos, como peles e garras):

– Terceira atividade ilegal mais rentável do mundo (atrás do tráfico de drogas e do comércio ilegal de armas): entre 10 e 20 bilhões de dólares por ano, sendo o Brasil responsável por uma fatia que varia de 5% a 15% do total;
– Segunda causa da perda de biodiversidade (atrás da perda de habitat);
– Dependendo da fonte consultada, o número de animais silvestres retirados da natureza no Brasil, por ano, é 12 milhões ou 38 milhões;
– Estima-se que 95% do comércio de animais silvestres no Brasil seja ilegal;
– Há pesquisas que apontam haver 60 milhões de brasileiros criando espécimes da fauna nativa em suas residências.

– Leia a matéria completa da Radio Nederland Wereldomroep
Releia as matérias do Fauna News:
 – “Tigres: muito perto da extinção”, de 26 de janeiro de 2011
– “Lembre-se: atrás das peças de marfim havia animais”, de 5 de abril de 2011
– “Depois dos rinocerontes, agora é a vez dos elefantes desaparecerem”, de 4 de maio de 2011

Fauna News

Sobre o autor / Dimas Marques

Formado em Jornalismo e Letras, ambos os cursos pela Universidade de São Paulo. Concluiu o curso de pós-graduação lato sensu “Meio Ambiente e Sociedade” na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo com uma monografia sobre o tráfico de fauna no Brasil. É mestre em Ciências pelo Diversitas – Núcleo de Estudos das […]

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