
Por Dimas Marques
Jornalista, pesquisador do Diversitas-USP e editor responsável do Fauna News
dimasmarques@faunanews.com.br
“Ontem pela manhã, duas capivaras foram atropeladas e mortas por um trem na Linha Azul, na região da Agepeama. Moradores do bairro disseram que vários animais estão circulando por lá.
Questionada se há o controle da população de capivaras e do porquê delas estarem em meio à cidade, a prefeitura respondeu que a responsabilidade de cuidar de animais silvestres é da Polícia Rodoviária. Já a Polícia Ambiental, por meio do capitão Maurício Rirano, declarou que a retirada de animais silvestres não é de sua competência, mas sim do Ibama. Ele detalhou que a polícia só age quando animais silvestres estão feridos, e que o grande problema da capivara é não possuir um predador natural, ou seja, o roedor se reproduz com facilidade e até pode causar um desequilíbrio ecológico, além de transmitir graves doenças, como a leptospirose.” – texto da matéria “ Duas capivaras são mortas em linha férrea na Agepeama”, publicada em 20 de junho de 2017 pelo site do Jornal de Jundiaí (SP)
O problema dos atropelamentos de animais silvestres em linhas férreas no Brasil é pouco conhecido. Já tratamos disso em 4 de fevereiro de 2016 no artigo “Trem mata?”, escrito pelo coordenador do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (NERF-UFRGS) Andreas Kindel para a coluna Fauna e Estradas.
A pequena matéria acima é um amontoado de equívocos. A começar pelo jogo de empurra irresponsável entre a prefeitura de Jundiaí e a Polícia Militar Ambiental. Também não foi ouvida a gestora da linha férrea.
Outro problema é a declaração do oficial da PM Ambiental que afirma não haver predadores para capivaras que, aliado à alta taxa de reprodução do animal, é um problema.Ou o policial é mal informado e intencionado ou a matéria está muito mal escrita. Nela, ninguém aborda a ocupação urbana que causou a perda de habitat desses animais, o desequilíbrio já existente que causou a ausência de predadores em quantidade para controlar a população dos roedores e a completa falta de interesse do poder público em pensar e implantar um programa de manejo da espécie para evitar os atropelamentos na linha férrea e a transmissão de doenças.
Do jeito que a matéria ficou escrita, só faltou comemorarem os atropelamentos desses animais que, segundo o texto, causam desequilíbrio ecológico e transmitem doenças.