Um estranho imitador: Inawentu, um novo titanossauro argentino

A evolução dos ecossistemas durante o final do Mesozóico (250 milhões a 65 milhões de anos atrás) ainda é bastante complexa e pouco conhecida. Por isso, toda espécie nova descrita ajuda a contribuir para entendermos melhor esse imenso quebra-cabeça do passado.

No finalzinho de novembro, uma nova espécie de titanossauro argentino foi apresentada ao mundo: o Inawentu oslatus, um singelo animal com menos de dez metros de comprimento, encontrado em rochas da província de Neuquén, na região da Patagônia argentina.

Os titanossauros são um grupo de dinossauros herbívoros e pescoçudos, muito comuns na América do Sul durante o Cretáceo Superior (como o brasileiríssimo Gondwanatitan). O Inawentu se destaca por ser razoavelmente completo, faltando apenas os membros, alguns ossos da cintura pélvica e a cauda. Entretanto, o que mais chama a atenção nessa nova espécie é a presença do crânio, preservado de maneira praticamente intacta e quase completo.

O crânio não somente está bem preservado, mas também apresenta uma anatomia incomum aos titanossauros, uma vez que é muito baixo e mais largo na região da boca, com dentes restritos à ponta de um focinho literalmente quadrado. Isso, juntamente com o pescoço relativamente curto (para um saurópode, claro), foi provavelmente uma adaptação para se alimentar de vegetação próxima ao solo.

Exibindo características cranianas muito semelhantes a um outro grupo de saurópodes, os rebbachisaurídeos, Inawentu recebeu um nome bastante apropriado: Inawentu significa “imitador” (em língua indígena originária Mapudungun), fazendo alusão a nova espécie ser muito similar aos rebbacchisaurídeos. Já o nome da espécie, oslatus, pode ser traduzido como “boca larga” (do latim). O nome de imitador se refere ao processo chamado de homoplasia, em que animais de linhagens evolutivamente diferentes acabam apresentando estruturas (ou mesmo padrões corporais inteiros) muito similares – ou, no bom e velho conhecimento geral, “convergência”.

Uma vez que os rebbacchisaurídeos foram extintos uns 15 milhões de anos antes do Inawentu, espera-se que essa descoberta forneça informações valiosas sobre os ecossistemas pré-históricos e os papéis ecológicos de diferentes espécies. Afinal, a semelhança entre a nova espécie e os rebbachisaurídeos abre caminhos para uma melhor compreensão sobre o nicho ecológico ocupado por esses dinossauros de linhagens distintas, sugerindo seu papel na alimentação de vegetação rasteira, que é possível inferir graças a anatomia muito similar do crânio e dos dentes do Inawentu e dos rebbachisaurídeos.

A descrição do Inawentu abre caminho para uma compreensão mais profunda dos ecossistemas passados e dos papéis ecológicos de diferentes espécies. Esse conhecimento nos esclarece sobre a coexistência de diferentes tipos de saurópodes titanossauros, cada um com atributos e hábitos alimentares distintos.

Essa descoberta enfatiza a importância da pesquisa paleontológica não só na região da Patagônia, mas na América do Sul como um todo. Os restos esqueléticos quase completos, particularmente o crânio e o pescoço articulados, fornecem uma riqueza de informações para os paleontólogos traçarem paralelos com outros titanossauros e rebbachisaurídeos, abrindo a porta para informações valiosas sobre a história evolutiva e as adaptações ecológicas desses dinossauros. À medida que o campo da Paleontologia continua a avançar, impulsionado por novas descobertas e colaboração interdisciplinar, a descoberta de Inawentu representa uma contribuição significativa para esta busca contínua por conhecimento, lembrando-nos do fascínio duradouro dos dinossauros como símbolos das maravilhas da história natural do nosso planeta.

Para saber mais

• Filippi, L,S.; Juárez-Valieri, R.D.; Gallina, P. A.; Méndez, A. H.; Gianechini, F. A.; Garrido, A. C. 2023. A rebbachisaurid-mimicking titanosaur and evidence of a Late Cretaceous faunal disturbance event in South-West Gondwana. Cretaceous Research.

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