
Por Elisângela de Albuquerque Sobreira
Médica Veterinária e mestre em Ecologia e Evolução pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Doutoranda em Animais Selvagens pela Universidade Estadual Paulista (Unesp/Botucatu). Já foi Gerente do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de Anáplois (GO), onde fundou e mantém o Centro Voluntário de Reabilitação de Animais Selvagens (CEVAS)
nossasaude@faunanews.com.br
O caso dos cervos que podem ser eutanasiados (mortos) por estarem com tuberculose no Pampas Safari, no Rio Grande do Sul, chamou a atenção para a doença. O destino dos cerca de 300 animais da instituição, que se encontra fechada, ainda é incerto, pois há informações de que nem todos os animais estariam doentes. História polêmica.
A tuberculose é uma zoonose infectocontagiosa, granulomatosa, predominantemente crônica, debilitante causada por bactérias resistentes a álcool e ácido pertencentes ao gênero Mycobacterium, ordem Actinomycetales. Por suas características epidemiológicas, clínicas e anatomopatológicas, poucas doenças podem ocasionar um efeito mais devastador do que a tuberculose sobre populações de animais selvagens, em especial aquelas mantidas em cativeiro.
A principal via de transmissão do agente é a aérea, sendo a inalação de aerossóis a mais comum. O contato direto (focinho com focinho) com secreções nasais e a ingestão de leite cru de animais infectados também constituem possíveis vias de transmissão, essa última especialmente importante quando consideramos a infecção de animais jovens. A infeção transplacentária não é comum.
Fatores como a elevada densidade animal e a vida em grupo (bandos, matilhas, etc.) contribuem para a transmissão do agente. Quanto maior o número de animais infectados, maior o número de bactérias presentes no ambiente e maior a chance de contaminação.
Os principais sintomas clínicos são:
– primatas: tosse, anorexia, emaciação e letargia;
– cervídeos: linfadenomegalia (aumento dos nódulos linfáticos) superficial com fistulação purulenta, tosse e dispnéia após seis meses de infecção, enquanto outros morrem subtamente sem quadro prévio;
– queixadas/catetos: muito variável. Desde inaparente até súbita manifestação respiratória;
– raposinhas/onças/lobos, dentre outros carnívoros: variável, sendo que predomina a fraqueza e emaciação (enfraquecimento e grande debilidade). Pode haver alteração comportamental;
– gambás: emagrecimento, anorexia, claudicação (mancar ou arrastar uma das pernas), dispneia (dificuldade de respirar) e distúrbios neurológicos;
– aves: emaciação, fraqueza e letargia.
Uma vez presente dentro do grupo, os animais devem ser submetidos às provas recomendadas de tuberculinização (utilização da tuberculina como meio de diagnóstico). O intervalo entre as tuberculinizações deve ser de 15 a 30 dias para primatas e 60 dias para os demais grupos e todos os animais positivos e/ou suspeitos devem ser imediatamente isolados até á decisão de adotar o tratamento ou submeter à eutanásia.
A transmissão da tuberculose de animais para os seres humanos é possível:
– aquisição da doença através do leite cru (normalmente tuberculose intestinal); e
– aquisição de doença profissional, ou seja, tratadores de animais, magarefes, veterinários (normalmente tuberculose pulmonar).