Tráfico de animais: muito além da apreensão

Dimas Marques
  • Dimas Marques

    Editor-chefe

    Formado em Jornalismo e Letras, ambos os cursos pela Universidade de São Paulo. Concluiu o curso de pós-graduação lato sensu “Meio Ambiente e Sociedade” na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo com uma monografia sobre o tráfico de fauna no Brasil. É mestre em Ciências pelo Diversitas – Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, onde pesquisou a cobertura do tráfico de animais silvestres por jornais de grande circulação brasileiros. Atua na imprensa desde 1991 e escreve sobre fauna silvestre desde 2001.

    Fauna News
12 de março de 2014
“Homens do Pelotão Ambiental da Polícia Militar de Sergipe apreenderam 65 pássaros silvestres na manhã deste domingo (2), durante fiscalização na chamada ‘Feira das Trocas’ na Avenida Euclides Figueiredo, no Bairro Lamarão, Zona Norte de Aracaju (SE).

Aves apreendidas em feira
Foto: Divulgação/Pelotão Ambiental

De acordo com informações do sargento Linsmar de Cristo, os pássaros das espécies cardeal, papa-capim, jesus-meu-deus, azulão, entre outras, estavam presas em dez gaiolas e cinco cumbucas.

Um homem foi preso e encaminhado à Delegacia Plantonista, no Centro da capital. Ele irá responder por crime ambiental, que corresponde à pensa de seis meses a um ano de prisão, além de pagamento de multa.

Os pássaros foram encaminhados ao Centro de Triagem de Animais Silvestres do Ibama.” – matéria “Pelotão Ambiental apreende 65 pássaros silvestres em Aracaju” publicada em 2 de março de 2014 pelo portal G1

O Fauna News publica a matéria acima sem cortes. A intenção é mostrar o quanto a imprensa é superficial quando aborda o tráfico de animais. Para o leitor que não conhece do assunto, o trabalho jornalístico passa a impressão de que o problema está resolvido.

Deve-se destacar que o infrator detido responderá pelo crime em liberdade e não será preso. A legislação oferece a possibilidade da “transação penal” quando a pessoa é flagrada pela primeira fez, o que significa que, caso aceite, ela não será processada e terá de pagar cestas básicas ou realizar algum trabalho comunitário.

Para os reincidentes, raramente os casos terminam em condenação com cadeia. Traduzindo: tráfico de animais é o crime da impunidade.

Outro ponto que deve ser destacado na matéria do G1 está na última sentença:

“Os pássaros foram encaminhados ao Centro de Triagem de Animais Silvestres do Ibama.”

A partir da entrega das aves, começa então uma jornada épica até a volta à vida livre – nas melhores das hipóteses. Há animais que, doentes, feridos ou domesticados demais (dependendo da espécie), jamais retornarão à natureza. O cativeiro será até o final da vida.

O problema do mercado negro de fauna é bastante complexo. O leitor tem de saber que, de acordo com estimativa da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais (Renctas), cerca de 38 milhões de bichos são retirados da natureza todos os anos para abastecer o comércio ilegal (sem contar invertebrados e peixes).

Esse mercado causa desequilíbrio nos ecossistemas, extinções de espécies e graves problemas de saúde pública causados pelas doenças transmitidas para os humanos (mais de 180 zoonoses já foram identificadas).

Ao ler qualquer matéria sobre apreensão de animais, é bom saber que há muita coisa envolvida além da apreensão.

– Leia a matéria no G1

Fauna News

Sobre o autor / Dimas Marques

Formado em Jornalismo e Letras, ambos os cursos pela Universidade de São Paulo. Concluiu o curso de pós-graduação lato sensu “Meio Ambiente e Sociedade” na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo com uma monografia sobre o tráfico de fauna no Brasil. É mestre em Ciências pelo Diversitas – Núcleo de Estudos das […]

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