
“A primeira experiência de reintrodução de onças-pintadas na natureza, realizada numa área do Pantanal, no Mato Grosso do Sul, por meio de parceria entre o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e o Projeto Onçafari, mantido por uma ONG, mostrou-se bem sucedida e deve servir de modelo para novas reintroduções na Mata Atlântica, onde a situação da espécie é mais crítica.
A informação é do analista ambiental Ronaldo Morato, chefe do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap), do ICMBio, que vem acompanhado o comportamento das irmãs Isa e Fera, junto com os demais membros do projeto, por meio de colares eletrônicos via satélites, colocados nos animais. “Pelos sinais emitidos pelos equipamentos dá para saber por onde os animais circulam. E já constatamos que, passados meses da soltura, as onças já se estabeleceram no território onde foram soltas, o que indica que já devem estar ambientadas”, disse Morato.
Perderam a mãe em 2014
As irmãs Isa e Fera, fêmeas de pouco mais de dois anos de idade, perderam a mãe em 2014, em Corumbá (MS), e desde então, até voltarem aos alagados e matas pantaneiros, foram criadas sob a supervisão de pesquisadores do ICMBio e do Onçafari e com suporte financeiro de empresários ligados ao projeto. Ao contrário do que normalmente ocorre quando animais da espécie são resgatados nestas circunstâncias natureza, as duas onças não foram criadas em cativeiros comuns, de onde costumam ser levadas a jaulas de zoológicos mundo afora.
Sem a mãe, a quem cabe ensinar os filhotes a caçar, Isa e Fera foram encaminhadas a um centro de reabilitação animal em Amparo, no interior de São Paulo, onde passaram cerca de cinco meses, até serem alocadas no Refúgio Ecológico Caiman, uma fazenda com área equivalente a 53.000 campos de futebol voltada ao ecoturismo e à preservação ambiental na cidade de Miranda (MS). Há na região cerca de 70 onças-pintadas, todas acompanhadas em algum momento da vida pelo Onçafari, que viu nascer cerca de 25 filhotes.” – texto da matéria “Onças-pintadas são reinseridas na natureza”, publicada em 30 de dezembro de 2016 pela página do ICMBio
No Pantanal, muitas onças-pintadas são caçadas por fazendeiros e peões de fazenda para quem o gado não seja morto pelo felino – mesmo que hoje já existam técnicas de manejo do rebanho para reduzir a perda de animais por ataques de felinos. No bioma Mata Atlântica, a perda de habitat é a principal causa da redução da população das pintadas. Na Amazônia, ocorre com frequência a caça desses animais e os filhotes capturados acabam sendo criados em cruéis cativeiros por anos.
Que o trabalho desenvolvido pelo Cenap e o Onçafari sirva, realmente, de matriz para o desenvolvimento de projetos de reabilitação e soltura de onças-pintadas. A falta desse tipo de projeto acabava por condenar os felinos filhotes apreendidos a viver para sempre em cativeiro, o que é muito ruim para os ecossistemas, onde eles não cumprem todas as suas funções ecológicas (predar e controlar o crescimento populacional de outras espécies, por exemplo).