Análise de Dimas Marques
Editor-chefe
dimasmarques@faunanews.com.br
“A Polícia Ambiental multou em R$ 10 mil, nesta segunda-feira (10), um morador da zona rural de Gália (SP) suspeito de matar a tiro uma onça-parda, ameaçada de extinção, na zona de amortecimento da Estação Ecológica Caetetus.
Uma espingarda calibre 32, carregada com um cartucho intacto, e sem registro, foi encontrada debaixo da cama do suspeito. Houve ainda apreensão de 18 cartuchos, dois fracos contendo chumbos, 73 espoletas e um socador de pólvora.
Os policiais estiveram no sítio, localizado no bairro da Onça, após denúncia sobre a morte do animal no local. Imagens do felino morto passaram a circular nas redes sociais e chegaram ao conhecimento das autoridades.
O homem foi questionado, segundo a versão oficial, e acabou confessando ter matado a onça com um tiro de espingarda, pois suas galinhas criadas no quintal estavam sendo devoradas pelo animal. A onça-parda foi encontrada enterrada na propriedade.
Os policiais utilizaram enxadas para remover a terra. O corpo do animal, que já estavam em fase adulta, estava em decomposição.
O suspeito foi apresentado na Central de Polícia Judiciária (CPJ), mas não consta o encaminhamento dado a ele após o registro da ocorrência.” – texto da matéria “Homem é multado em R$ 10 mil por matar onça-parda com espingarda em Gália”, publicada em 11 de outubro de 2022 pelo portal G1
A ocupação humana do território é responsável por esse tipo de conflito. A transformação do habitat dos animais em ambiente urbano e de exploração agropecuária em território paulista tem feito com que os contatos entre animais silvestres, animais domésticos e seres humanos culminem em problema – geralmente com saldo negativo para a fauna.
Os animais silvestres possuem cada vez menos habitat conservado para viver, o que os força a buscar alimento, por exemplo, fora de seu ambiente natural. Provavelmente foi o que ocorreu com a onça-parda morta pelo sitiante.
Em Gália, a Estação Ecológica dos Caetetus é um dos últimos remanescentes de floresta (Mata Atlântica) na região e abriga fauna de médio e grande porte, como a onça-parda, a jaguatirica e a queixada. Ilhados nas unidades de conservação, os animais inevitavelmente acabam circulando pelas propriedades rurais do entorno, seja na busca por novos territórios, seja na busca por alimento.
E galinhas são um atrativo e tanto para onças que enfrentam dificuldade para encontrar suas presas naturais.
Cabe ao poder público, no caso específico à Fundação Florestal do estado de São Paulo (órgão responsável pela gestão da Estação Ecológica dos Caetetus), orientar e ajudar proprietários rurais e habitantes da zona de amortecimento da unidade de conservação a manejarem suas criações de forma a reduzir conflitos com animais silvestres.
No caso do sitiante que matou a onça, talvez a construção de um simples galinheiro evitaria que o felino atacasse os animais de criação. A onça-parda (Puma concolor) está ameaçada de extinção no estado de São Paulo e a perda desses animais gera consequências para o delicado equilíbrio de ecossistemas tão ameaçados quando a Mata Atlântica do interior paulista.