Por Dimas Marques
Editor do Fauna News
dimasmarques@faunanews.com.br
Ontem, o Fauna News publicou “E começou a temporada anual de tráfico de papagaios-verdadeiros do Cerrado”. Além de comentários, o texto contêm informações de três apreensões realizadas no Mato Grosso do Sul, em Minas Gerais e no Rio de Janeiro. Centenas de filhotes de papagaios e araras foram encontrados com traficantes de fauna.
São animais coletados recém-nascidos de seus ninhos, amontoados em caixas e transportados com pouco alimento, água e ventilação por muitas horas até o destino, onde são vendidos. O resultado é uma vida inteira cativo, não sendo incomum ter asas cortadas, alimentação inadequada e jamais ter algum cuidado veterinário. Voar ou viver com os da sua espécie, como fazem na natureza em bandos de dezenas de animais, jamais. É cruel.
Muita gente pode achar que essas aves, vendidas em feiras de rua ou pelas redes sociais, são adquiridos somente por pessoas que não têm dinheiro suficiente para comprar uma animal nascido em criadouro comercial legalizado. Afinal, a diferença entre os preços do bicho traficado e do legalizado é imensa.
Mas não é bem assim.
Na manhã de 11 de setembro, uma equipe da PM Ambiental paulista esteve em uma residência de alto padrão de um condomínio de luxo localizado em Barueri, na Região Metropolitana de São Paulo. O objetivo da equipe era verificar se a denúncia da existência de animais silvestres ilegais era verdadeira.
Os Pms foram recebidos pelo proprietário do imóvel, onde foram encontradas duas araras-vermelhas-grandes (Ara chloropterus) e um papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva). Os três animais estavam anilhados, ou seja, com os anéis de identificação de uso obrigatório para os que nascem em criadouros comerciais legalizados.
Durante a verificação da nota fiscal das araras, foi constatado que elas foram emitidas em 30 de janeiro de 2019 e que os nascimentos das aves ocorreram em dezembro de 2018. Entretanto, a empresa que teria emitido os documentos, a Paraíso Pet de Ibiúna, foi encerrada em 6 de fevereiro de 2018. Sobre o papagaio, o proprietário informou ter perdido a nota fiscal.
Por causa da suspeita de fraude por falsificação de nota fiscal, o caso foi registrado na pela Polícia Federal, que também investigará o caso de manutenção ilegal de animais silvestre em cativeiro. O proprietário do imóvel, que responderá pelos delitos em liberdade, acabou multado em R$ 10.500.
Na delegacia, o morador do condomínio afirmou ter comprado as araras pelo site de comércio eletrônico Mercado Livre, tendo retirado os animas em Guarulhos. O papagaio, ele disse ter adquirido de uma vizinha, também moradora do condomínio. Ele alega ter agido de boa-fé, pois imaginava tratar-se de aves legalizadas.
Os animais foram levadas para o centro de tiragem de animais silvestres de Barueri. As araras-vermelhas-grandes estão ameaçadas de extinção no estado de São Paulo.