Graduada Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestra e doutoranda no Programa de Pós Graduação em Ecologia da mesma universidade, onde atua no Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF). É integrante da Rede Brasileira de Especialistas em Ecologia de Transportes (REET Brasil)
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Na Ecologia de Rodovias estamos sempre buscando soluções para reduzir os impactos desses empreendimentos na fauna. Existem inúmeras medidas mitigadoras com o objetivo de reduzir colisões entre veículos e fauna, dentre elas temos tanto as que alteram o comportamento dos motoristas quanto o dos animais. Você já deve ter pensado ou ouvido falar na redução dos limites máximos de velocidade das estradas como uma opção. E é sobre essa opção que eu vou tratar um pouco hoje.
Um estudo publicado há poucos dias avaliou se a redução do limite máximo de velocidade de uma via também reduz o número de colisões entre veículos e veados. Os autores reduziram o limite máximo de velocidade de 70 mi/h (milhas por hora), o equivalente a aproximadamente 112 km/h, para 55 mi/h (aproximadamente 88 km/h) durante o período da noite (30 minutos antes do pôr do Sol até 30 minutos após o nascer do Sol) e mantiveram o limite de 70 mi/h ao longo do dia. Essa redução foi testada em duas áreas diferentes da estrada: uma utilizada pelos veados durante o inverno e outra durante o período de migração deles, e com três trechos cada área.
Os autores mensuraram a velocidade dos veículos e o número de colisões ao longo do dia e durante a noite com a velocidade normal (70 mi/h) e depois da redução (55 mi/h). Em ambas as áreas avaliadas, foi observado que os motoristas sempre dirigem com menor velocidade a noite em comparação ao dia, porém eles não respeitaram o limite máximo de velocidade noturno quando ele foi reduzido.
Não houve evidências de que o limite menor de velocidade reduziu o número de colisões entre veículos e veados. Inclusive, após a velocidade passar a ser 55 mi/h na área utilizada durante o inverno, o número de acidentes reportados pelos motoristas foi maior e a quantidade de carcaças de veados encontradas não mudou em comparação a velocidade de 70 mi/h. Na área ocupada durante o período de migração ocorreu uma breve redução no número de colisões, mas essa diferença não foi significativa, não sendo possível afirmar que diferiu por conta da redução do limite de velocidade.
Ao contrário do que popularmente se acredita, a redução do limite máximo de velocidade não resultou na redução de colisões. Pelo menos de acordo com os resultados encontrados nesse trabalho. Uma questão importante a ser considerada é que os motoristas não diminuíram a velocidade mesmo com a redução do limite máximo, sendo possível pensarmos que a partir de uma conscientização dos motoristas quanto aos limites de velocidade poderemos ter resultados diferentes e mais satisfatórios para um menor número de colisões.
Vale destacarmos a importância desse trabalho, pois é um dos primeiros estudos que testa os efeitos da redução dos limites de velocidade, embora tenha como alvo um animal específico e de grande porte. Em outros grupos, como aves e outras espécies de mamíferos, ainda é necessário avaliar esse efeito. Para esses animais, pode ser que a redução no limite de velocidade resulte em um menor número de colisões, pois há uma chance de o motorista reagir a tempo para parar (assumindo que o motorista respeite o limite da via) e do animal se deslocar para fora evitando a colisão.
Se rápido ou devagar, não sei, mas seguimos, pois ainda precisamos aprender muito sobre a relação entre limites de velocidade e fatalidades de fauna.
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