Por Dimas Marques
Editor-chefe
dimasmarques@faunanews.com.br
Considerado por colegas de trabalho e ambientalistas como um dos agentes de fiscalização mais atuantes do Ibama, Roberto Cabral Borges foi transferido do setor de operações da sede do órgão para a área administrativa. A decisão, que teria partido o coronel da reserva do Exército, Aécio Galiza Magalhães, atual coordenador-geral de fiscalização ambiental do Ibama, foi oficializada sexta-feira, 13 de maio. O motivo teria sido as posições políticas do servidor, contrárias às do presidente Jair Bolsonaro e da gestão implementada no Ibama.
Cabral, como é conhecido, é biólogo e mestre em Ecologia pela Universidade de Brasília (UnB). Em 2002, ingressou no Ibama como analista ambiental e atuou na gestão dos Centros de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do órgão e do sistema responsável pelos criadores amadoristas de pássaros. Dois anos depois, em 2004, concluiu o curso de fiscalização e passou a exercer a função de agente ambiental federal.
Em 2014, Cabral ingressou no Grupo Especializado de Fiscalização (GEF) do Ibama, que é responsável por ações táticas especiais de combate a crimes ambientais, como garimpo, extração ileal de madeira, caça e tantos outros. Em 2019, meses após Jair Bolsonaro assumir a Presidência da República, ele foi exonerado do cargo de coordenador-geral de Fiscalização Ambiental da Diretoria de Proteção Ambiental do órgão federal.
Recentemente, Cabral foi o responsável pelo relatório que informou haver irregularidades na importação da África do Sul de girafas pelo BioParque (que pertence ao Grupo Cataratas), transação autorizada por outros setores do Ibama. Dos 18 animais trazidos ao Brasil em novembro de 2021, três morreram após escaparem do recinto do Portobello Safári, em Mangaratiba (RJ), e serem recapturados. O agente de fiscalização também foi responsável pela Operação Delivery, em que anilhas de pássaros eram distribuídas para criadores amadores somente após a comprovação de nascimentos de animais. O objetivo era – era, e não é, pois a Operação Delivery foi cancelada na gestão Bolsonaro – evitar tráfico de fauna.
No sábado, 14 de maio, o Fauna News solicitou informações ao Ibama sobre os motivos da transferência de Cabral e questionou se houve motivação política para tal decisão. Até o momento, o órgão federal não se manifestou. Cabral também foi procurado, mas preferiu não comentar.
O Ibama, bem como diversos outros órgãos federais, tem vários postos de chefia ocupados por militares. O próprio coronel Aécio Galiza Magalhães, antes de assumir sua atual função no Ibama em outubro de 2021, trabalhava na Coordenação Regional de Passo Fundo (RS) da Funai.
O caso da pesca
Quem não se lembra do então deputado federal Jair Bolsonaro sendo multado, em 2012, por pescar em área proibida, uma unidade de conservação em Angra dos Reis (RJ)? O agente do Ibama responsável pela autuação, José Augusto Morelli, acabou exonerado da chefia do centro de Operações Aéreas da Diretoria de Proteção Ambiental do Ibama, dias após o atual presidente assumir o cargo.