
Por Fernanda Zimmermann Teixeira
Bióloga, mestre e doutora em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É pós-doutoranda no Laboratório de Ecologia da Paisagem da Carleton University (Canadá) e integrante do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF-UFRGS)
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Todo mundo que já viajou de carro já deve ter visto um animal nativo atropelado. Este é um impacto de estradas amplamente reconhecido. Sabe-se que a mortalidade por atropelamento tem um grande potencial até mesmo para diminuir a diversidade genética de uma população de animal silvestre, sem falar na redução no número de animais no entorno de uma estrada.
Mas será que o atropelamento de fauna é avaliado adequadamente nos estudos de impacto ambiental?
A construção, pavimentação e duplicação de estradas dependem da aprovação de um estudo de impacto pelo órgão ambiental e esse estudo deve apresentar uma previsão dos impactos a serem gerados. Esse estudo é o documento que norteia as decisões a serem tomadas pelo órgão ambiental sobre a obra, incluindo as medidas mitigadoras a serem implantadas.
Mas será que os estudos de impacto ambiental apresentam previsões sobre os atropelamentos de fauna que possam direcionar essas decisões?
Em um trabalho que realizamos no NERF em 2012, fizemos uma avaliação de como os estudos de impacto ambiental de rodovias no Brasil consideram o impacto de mortalidade por atropelamento. Analisamos se os estudos de impacto ambiental apresentavam previsões da magnitude esperada desse impacto, quais espécies correriam mais risco, e onde e quando se esperaria maior mortalidade. Além disso, analisamos se os estudos propunham medidas para mitigar os atropelamentos previstos.
Dos 10 estudos avaliados, somente metade havia realizado monitoramento de fauna atropelada. Nenhum dos dez estudos apresentou análises preditivas de quando e onde são esperados mais atropelamentos, uma informação extremamente útil para o planejamento de medidas mitigadoras.
Muitas vezes, o atropelamento de fauna é avaliado somente durante o monitoramento, após a obra licenciada. Alguns poderiam argumentar que esse impacto só ocorre após a obra. Isso só seria verdade para os casos de construção de uma nova estrada, mas não para casos de duplicação e pavimentação de estradas. Mesmo assim, até em casos em que a estrada ainda não existe, é possível prever com algum grau de confiança quais os locais em que se espera maior número de atropelamentos e que seriam prioridade para a implantação de medidas mitigadoras. Essa informação também poderia ser um subsídio para mudar o traçado da estrada e minimizar os atropelamentos!
Mas então, como podemos incluir a avaliação da mortalidade nos estudos de impacto ambiental? Independente do contexto, se a estrada já existe ou não, devemos avaliar a situação atual e prever como esse impacto pode aumentar após a obra da estrada. São essas previsões que devem orientar o planejamento de medidas para mitigar a mortalidade por atropelamento.