Polícia Federal fecha cerco contra quadrilha de tráfico de animais do Rio de Janeiro

A Polícia Federal do Rio de Janeiro está apertando o cerco contra grupos envolvidos no tráfico de animais que têm atuado juntos no Estado. Duas operações já foram realizadas e mais ações devem ocorrer.

O primeiro grande lance desse trabalho aconteceu em 12 de março com a operação Defaunação, em que um sargento do corpo de bombeiros fluminense foi detido pela suspeita de ser o líder da quadrilha.

Nessa ação, que aconteceu nas cidades do Rio de Janeiro, Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Maricá, foram detidas outras duas pessoas, além do bombeiro. Participariam do esquema ex-servidores do Instituto Estadual do Ambiente do Rio de Janeiro (Inea) e do Comando de Policiamento Ambiental (CPAm), além de alunos e médicos veterinários.

Defaunação 2

Em 15 de abril, uma nova operação foi realizada. Dessa vez, equipes da Polícia Federal e do Inea estiveram em um sítio localizado em Cachoeiras de Macacu (RJ), onde foram encontrados 38 animais mantidos ilegalmente em cativeiro: 24 estavam na posse do proprietário do imóvel – que não foi localizado – e os outros 14 com o caseiro.

Foram apreendidos seis araras-canindé, duas araras-vermelhas-grandes, uma arara-macau, três papagaios-do-mangue, um papagaio-moleiro, um tucano-toco, três jandaias-sol, dois jabutis, um cágado-de-barbela, quatro tigres-d’água, quatro trinca-ferros, quatro canários-da-terra e seis coleiros.

Nove aves estavam com anilhas falsas (anéis metálicos colocados nas pernas dos espécimes). Em uma das araras, o equipamento foi colocado de forma errada, esmagando a perna da ave.

Duas pessoas que estavam no imóvel foram presas e autuadas por falsificação de selo público, posse de animais silvestres sem autorização e receptação. Os animais foram apreendidos, sendo que 27 foram levados para o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do Ibama, em Seropédica (RJ), e 11 pássaros acabaram soltos.

A quadrilha de traficantes de animais

A quadrilha passou a ser identificada e investigada a partir da apreensão, em janeiro do ano passado, de dois macacos-prego que eram criados pela modelo e influenciadora digital Nicole Bahls. O grupo seria responsável pelo comércio ilegal de, pelo menos, 120 macacos-prego em um ano.

De acordo com a Polícia Federal, a quadrilha tem integrantes com diversas funções, desde a caça (captura) até a falsificação de documentos públicos para que os animais fossem vendidos como se tivessem origem legal e dificultar a fiscalização dos órgãos ambientais. As investigações identificaram que o grupo realizava o cadastramento fraudulento de espécimes no Sistema Nacional de Gestão da Fauna Silvestre (Sisfauna) e no Sistema de Controle e Monitoramento da Atividade de Criação Amadora de Pássaros (Sispass). O Inea está auxiliando a polícia na identificação das fraudes, que começaram a ocorrer na década passada.

Os animais eram vendidos pelas redes sociais por valores que poderiam chegar a R$ 120 mil. Dependendo do preço acertado, eles poderiam vir com documentação falsificada (termos de depósito de animais silvestres). Além de macacos-prego, alguns de espécie ameaçada de extinção, como o macaco-prego-de-crista (Sapajus robustus), a Polícia Federal tem informações que a quadrilha traficava araras, papagaios, pássaros, cervos e iguanas. O grupo pode ter movimentado, em um ano, de R$ 2,4 milhões a R$ 14,4 milhões.

Expectativa por novas operações

Novas ações da Polícia Federal estão para acontecer. A sociedade espera que os inquéritos e a ação do Ministério Público consigam realmente desarticular o grupo e colocar seus integrantes na cadeia. O tráfico de animais é um crime com poucas punições exemplares no Brasil, o que contribui para que a atividade esteja tão disseminada no país.