Por Marcelo Calazans
Técnico em agropecuária, administrador de empresas e fotógrafo. Foi professor da disciplina Fotografia de Natureza pelo Senac-MS
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Olá, gente! Tudo bem? Espero que sim.
A partir deste artigo, e por uma série de mais quatro outros, irei apresentar para vocês um dos biomas mais incríveis do planeta, a planície pantaneira, e o que podemos registrar nesse local.
Em abril deste ano, trabalhei como assistente de monitoramento de fauna na Serra do Amolar. Acompanhei um biólogo que fazia o pré-levantamento e cadastro das espécies de animais em uma área que será destinada ao ecoturismo. Mas, antes de detalhar o trabalho que realizei, vou relatar um pouco das características da região e os desafios que ela apresenta para a fotografia de natureza e, consequentemente, para os fotógrafos.
Bora lá!
A Serra do Amolar é considerada um dos mistérios do pantanal. Essa região dista cerca de 180 quilômetros rio acima (rio Paraguai), saindo de Corumbá (MS), e está na tríplice divisa de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Bolívia. Sua geografia é única, com montanhas, rios, lagoas e campos alagados o ano todo. É um lugar onde os homens precisam viver em simbiose com as águas. É também área dos índios Guató, os mais antigos habitantes do local. Eles acreditam que a ilha Insua, onde vivem, é o centro do mundo.
Serra do Amolar
A sua estranha geografia e seu isolamento não são encontrados em nenhum outro lugar do pantanal. Primeiro porque o Amolar não sofre tanto o ciclo das águas, permanecendo alagado durante todo o ano. E depois pela paisagem. As montanhas são elementos inusitados na paisagem pantaneira, caracterizada por planícies em sua maioria. E por último, pelo passado que isolou ali apenas índios, que, para sobreviver nesse mundo de água, tornaram-se mestres na arte da canoagem.
O pantanal já foi uma zona de terras mais altas, há mais de 60 milhões de anos, resultado do processo de formação da Cordilheira dos Andes. As camadas de rocha que sofreram rupturas pelos deslocamentos de placas tectônicas e outras forças geológicas criaram a depressão pantaneira. Nos períodos de chuva e seca, muita areia foi transportada para esses locais, criando depósitos com centenas de metros de espessura. Na superfície dessa planície se originaram os chamados leques aluviais de areia, que condicionaram o caminho das águas dos principais rios da região. O rio Paraguai, que é o maior do pantanal, corre próximo ao pé da Serra do Amolar, num trecho muito baixo da planície. As montanhas, de certa forma, ajudam a represar a água, o que favoreceu o surgimento de duas grandes baías (a baía Infinita e a baía do Burro) e também a formação de três grandes lagoas (a Mandioré, a Gaíva e a maior delas, a Uberaba).
Na região do Amolar, a intensidade das águas limita até a presença dos bichos. Diferentemente de outras áreas do pantanal, os animais não podem caminhar em busca dos alimentos. Vivem ali apenas mamíferos aquáticos como ariranhas, lontras, capivaras e antas. A onça pintada também se adaptou ali, nas partes mais altas, nas “fraldas” das montanhas. Há ainda grandes colônias de garças, biguás, tuiuiús e claro, uma quantidade enorme de jacarés.
Povoamento
O passado misterioso da região é alimentado por intrigantes resquícios arqueológicos, como inscrições rupestres e peças de cerâmica que foram datadas como sendo feitas há cerca de 3 mil anos.
Quando os primeiros homens brancos chegaram ao pantanal, no início do século XVI, encontraram diversas tribos indígenas que ali viviam, cada qual com suas características, mas todas tendo em comum o fato de pertencerem ao grupo Guarani. Contatados pela primeira vez pelo explorador espanhol Martinez Deirala, os Guatós são as únicas almas indígenas que habitam hoje a região do Amolar. Acostumaram-se a chamá-la de Pantanal Profundo em referência à região das três grandes lagoas.
Os Guatós
Única tribo nômade, os Guatós tornaram-se respeitados caçadores pelo manejo certeiro do arco e da flecha. Exímios canoeiros, sagraram-se mestres na arte de construir canoas de troncos de árvores e de viver sobre elas durante vários dias se necessário, remando de rio em rio, lagoa a lagoa. Os homens sabem remar muito bem. As mulheres, sentadas na popa, direcionam o barco por meio de um remo e as crianças acocoram-se no meio sobre uma esteira. As canoas, com três palmos e meio de largura e 20 a 25 palmos de comprimento, transportam de ces a arcos e flechas para caçadas e pescarias. Sempre estavam em busca de um lugar seco para acampar.
Reservas ecológicas
Área protegida no Pantanal inteiro (como parque e estação ecológica), por incrível que pareça, é uma piada de mau gosto. Dos 15 milhões de hectares de área de todo o Pantanal, apenas 135 mil hectares, ou seja, menos de 1% do total, estão em unidades de conservação oficiais. E, mesmo assim, em local de permanente inundação: o Parque Nacional do Pantanal, ou Parque Nacional do Caracará, tem a sede localizada na margem direito do rio Cuiabá (São Lourenço), 100 metros abaixo da boca da Baía do Burro, a uns 20 minutos de barco com motor 25hp, da barra do São Lourenço ao pé da Serra do Amolar. O turista que for à região de barco ou avião, terá como referências: ao fundo, a Serra do Amolar e, mais próximos ,os morros do Campo (menor) e o do Caracará (no bico do delta formado pelos rios Paraguai e São Lourenço).
O Parque, no encontro dos rios São Lourenço e Paraguai, incorporou em 1974 uma fazenda que ficou completamente submersa com a última enchente do local. Essa cheia fez com que os últimos fazendeiros abandonassem de vez a região.
Abaixo, separei algumas imagens que eu fiz no local. No próximo artigo, continuarei relatando as características da região e trarei mais fotos de lá.
Obrigado a todos e até a próxima!