Por Marcelo Calazans
Técnico em agropecuária, administrador de empresas e fotógrafo. Foi professor da disciplina Fotografia de Natureza pelo Senac-MS
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Olá, pessoal! Chegamos à terceira e última parte sobre fotografia de aves em vôo. Então vou fazer um compilado do que apresentei até agora, com algumas informações novas. Vamos lá!
A fotografia de vida selvagem é um grande desafio, em especial quando queremos obter fotografias criativas, dinâmicas e ilustrativas, ao invés de obter apenas uma simples fotografia. Fotografar animais esquivos e pouco cooperantes pode tornar-se frustrante e requer uma tremenda dedicação, paciência e perseverança. No entanto, depois de todo o trabalho que tivemos, a recompensa é muito gratificante. A coluna Photo Animal surgiu da necessidade de partilhar a minha experiência na fotografia de vida selvagem aliada à minha formação como observador de aves.
As aves são um excelente motivo para quem se quer iniciar na fotografia de vida selvagem. Ocorrem muitas espécies no Brasil e elas podem ser observadas nos mais variados ambientes, desde florestas, montanhas e até nas cidades. São, por isso, mais adequadas para quem se inicia nessa atividade.
Não é necessário equipamento top de linha, mas sim alguns conhecimentos e paciência. O número de observadores de aves tem aumentado ao longo dos anos, o que facilita a transmissão de conhecimento entre os mesmos e aumenta o número de pessoas dispostas a ajudarem e a responderem às nossas dúvidas, auxiliando também a ampliar o nosso conhecimento sobre a observação e fotografia de aves. Não tenha medo de perguntar e procure sempre conhecer as espécies que deseja fotografar. A consulta de guias ou artigos científicos pode ser útil para determinar quais as melhores épocas do ano para se fotografar ou para saber distinguir entre duas espécies semelhantes.
A fotografia de aves também auxilia o desenvolvimento da ciência que estuda esses seres, a ornitologia. Graças a isso, novas espécies são descobertas e também novos comportamentos das já conhecidas.
Aves no seu quintal
Os quintais podem ser um excelente local para fotografar vida selvagem, em especial para quem tem falta de tempo. No entanto, obter boas fotografias não é tarefa fácil e requer muito planejamento, criatividade e paciência. A colocação de comedouros e bebedouros irá atrair muitas espécies, sendo que o alimento disponibilizado irá determinar quais as aves que aparecerão.
De uma forma simplificada: a maioria das espécies aprecia sementes de girassol e amendoins, como também painço e alpiste. As rolinhas e pombas apreciam grãos de milho. Os canários-da-terra e outras espécies gostam de grãos de arroz cru. Já os sanhaçus e outros papa-frutas adoram mamão e laranja. Pode-se fotografar a partir de uma janela, entretanto o mais indicado será utilizar um abrigo de forma a poder controlar a direção da luz. Para fotografar aves pequenas, deve-se ter o cuidado de fotografar com luz de frente ou por trás, evitando luzes laterais. Se posicione tendo isso em mente.
Os arbustos por trás do comedouro devem estar longe o suficiente para aparecerem desfocados nas fotografias e assim conseguir um fundo limpo. Um bebedouro também atrai aves que aproveitam para beberem água e tomarem banho, como beija-flores e cambacicas. Se o seu quintal tiver uma porção de terra, revolva-a para atrair espécies que se alimentam de minhocas e outros seres que vivem no solo. Sabiás adoram! Procurem registrá-las quando estão se posicionando para se alimentar ou beber.
Aves aquáticas
As aves aquáticas, sendo a sua maioria limícolas, ou seja, que procuram seu alimento no lodo de rios, lagos e mares, podem constituir um grande desafio. A única vantagem é que elas preferem zonas abertas, niveladas e bem iluminadas, logo a luz e os fundos não são um problema. Assim teremos mais tempo para nos concentrarmos na composição e na captura de alguns comportamentos.
Algumas espécies deixam que nos aproximemos bastante, em especial os juvenis que migram pela primeira vez para o Brasil vindos de várias regiões do mundo e que nunca viram seres humanos. Essa facilidade também ocorre com as aves em portos de pesca e em algumas praias, lagos e rios.
As cheias afetam o comportamento das aves aquáticas, período em que elas se agrupam em grandes bandos num terreno seco e aberto para descansarem e cuidarem das suas penas. Por vezes, algumas podem deslocar-se para salinas de forma a continuarem a alimentar-se, como araras, periquitos e outros. Caso esses bandos sejam tolerantes, com o uso de uma objetiva de médio ou longo alcance é possível fotografar os indivíduos localizados nas pontas e que se consigam isolá-los dos restantes.
A passagem de uma ave de rapina poderá fazer com que todo o bando levante voo, o que permitirá você conseguir fotografias do grupo em voo.
Com o término da cheia, as aves regressam às margens para continuarem a procura por alimento. Nesse período também é possível fotografá-las, pois elas andam ocupadas à procura de alimento. A melhor época começa em maio e vai até dezembro, quando muitas espécies estão nidificando. Mas CUIDADO!!! Nada de atrapalhar esse processo, nem fazer muito barulho para não estressar as aves. Observe de longe, mas a uma distancia em que é possível fazer os registros. Aproxime-se com cautela, e em caso de encontrar algum ninho em arbustos ou galhos mais baixos, NUNCA os manipule nem use flash.
Aves no seu habitat
Resista à tentação de realizar todas as fotografias onde o assunto registrado enche todo o fotograma. Considere incluir o plano de fundo, nesse caso o habitat. Assim você consegue transmitir em uma fotografia a história entre o assunto registrado e a sua relação com a paisagem. O assunto ajuda a ilustrar a escala da paisagem, mesmo que represente apenas uma porção da mesma. Deve se dar atenção à forma como se compõe a fotografia, tentando utilizar a regra dos terços e colocar o assunto longe do centro. Você pode utilizar objetivas de longo alcance, como a 70-200 mm. No entanto, se o assunto estiver suficientemente perto, poderá optar por uma objetiva grande-angular ou outra lente não tão “grande”.
Em alguns casos, o assunto pode servir apenas para balancear a composição ou servir como ponto focal para um excelente retrato ambiental, como panoramas ou fotos de pores do sol. Experimente com as aves em parques da cidade até compreender como deve compor as imagens. Depois pode replicar as ideias na natureza. Experimente numa mata próxima à cidade ou em áreas de fazendas.
Olho das aves
O olho das aves é o aspecto mais importante numa fotografia. Conseguir captar o brilho do sol nos seus olhos vai injetar vida na fotografia e pode ser a diferença entre uma grande fotografia e um fiasco. Esse pormenor ganha especial importância em animais de cabeça escura, onde o olho é pouco perceptível e esquecido entre a plumagem.
Em dias claros, esse brilho ocorre de forma natural quando os sujeitos são iluminados de frente ou pela lateral. No entanto, você deve esperar até a cabeça estar na posição correta para que o brilho ocorra. Em dias de céu nublado, poderá ter de utilizar um flash de preenchimento com fraca intensidade de forma a adicionar um brilho sutil ao olho do sujeito, que pode depois ser suavizado na edição de imagens para lhe conferir um aspecto mais natural. Nunca adicione esse brilho a aves que nunca o poderiam tê-lo, como os que estejam iluminados por trás. Preste bastante atenção de onde está vindo a luz, e aproveite.
E com esse resumão, termino a parte sobre técnicas para se registrar aves em voo.
Nos encontramos no próximo artigo. Até lá!
CONFIRA OS OUTROS ARTIGOS DA SÉRIE
– Photo Animal – A técnica de registro de aves em voo (parte I)
– Photo Animal – A técnica de registro de aves em voo (parte II)