Por Marcelo Calazans
Técnico em agropecuária, administrador de empresas e fotógrafo. Foi professor da disciplina Fotografia de Natureza pelo Senac-MS
photoanimal@faunanews.com.br
Olá!
Fugindo um pouco da parte técnica da fotografia de natureza, neste artigo quero destacar a importância que essa atividade possui para a Ciência. Sempre destaquei alguns aspectos disso nos artigos anteriores, mas agora resolvi juntar tudo em um só texto para que fique fácil de ser entendido e compartilhado.
Como a fotografia de natureza estabelece uma comunicação imediata com quem a vê, sendo uma linguagem universal que atrai a atenção das pessoas e que pode gerar um movimento em direção a mudanças sobre os temas retratados, eu a considero uma das mais importantes ferramentas de conscientização e educação ambiental disponíveis. A parte estética da fotografia chama a atenção para as questões ambientais. Imagens que mostram animais em seu habitat causam um impacto profundo sobre quem as vê, fazendo pensar nas relações entre o homem e o meio ambiente.
Em contato com esse tipo de imagem, o espectador é conduzido a novas linguagens, inclusive à dimensão política por trás do que foi fotografado. Essas fotografias informam, representam, surpreendem e transmitem um significado, fascinando e convidando as pessoas a senti-las, percebê-las, julgá-las e interpretá-las. Elas despertam um sentimento de proteção à nossa “casa”, ao meio que fazemos parte. Então, fotografar a natureza é uma ferramenta essencial para a educação e a conscientização ambiental, além de ser uma arma de denúncias, levantando a necessidade da conservação de áreas em risco de degradação e de espécies animais em extinção.
Câmeras fotográficas são instrumentos nas mãos de fotógrafos, que documentam problemas ambientais e o impacto que a atividade humana exerce no meio ambiente e no planeta.
A fotografia de natureza é um desdobramento dentro do fotojornalismo, com o objetivo de registrar aspectos naturais, paisagens, animais, devastação ambiental, etc. E dentro desse segmento, temos as suas subdivisões, com foco em captar imagens da biodiversidade e de sua riqueza e que contam com profissionais que preferem um aspecto ativista, denunciando a degradação e os crimes ambientais de forma impactante. E essas subdivisões formam o “pacote” da fotografia científica.
A fotografia científica é bastante usada com o objetivo de divulgar resultados de pesquisas científicas ou ilustrar fenômenos descritos em livros de maneira didática. Ela é usada desde a invenção da fotografia no século XIX. Quando ela surgiu, era bastante utilizada na astronomia, mas hoje é em encontrada em diversas outras áreas, como a Matemática, a Biologia, a Química e a Odontologia.
Esses usos da fotografia científica seguem o velho ditado que diz que “uma imagem vale mais do que mil palavras”. Dessa forma, fica muito mais fácil de entender e assimilar o conteúdo de determinadas áreas do conhecimento.
Dentro das subdivisões da fotografia de natureza e científica, vou destacar as que mais se encaixam no contexto. Os outros tipos ficam para um próximo artigo. Mas antes, um esclarecimento sobre o que é fotografia científica.
A fotografia científica nada mais é do que um registro fotográfico de temas muito pequenos, distantes, rápidos ou difíceis de serem enxergados a olho nu. Dessa forma, ela registra aspectos físicos e ecológicos de ambientes naturais e seres vivos, por exemplo. Daí sua ligação direta com a fotografia de natureza. Um dos grandes objetivos da fotografia científica é tentar aproximar a ciência da sociedade, deixando em evidência aspectos científicos que muitas pessoas julgam ser complicados.
Agora sim, falarei um pouco das subdivisões da fotografia cientifica mais próximas da fotografia de natureza.
Fotografia científica ambiental
Entre 1824 e 1829, o barão Georg Heinrich von Langsdorf saiu em uma expedição pelo Brasil, em companhia do pintor alemão Johan Moritz Rugendas, registrando a natureza e a sociedade da época em pinturas. Essas expedições científicas permitiram que fosse elaborado um compêndio sobre a nossa biodiversidade que e se tornaram registros valiosos de nossa história. E desde a descoberta da fotografia, ela esteve relacionada diretamente com a questão ambiental. No começo, o objetivo da fotografia era fazer um registro fiel da natureza, tal qual ela se apresentava naquele momento.
A fotografia de natureza serve, no âmbito científico, como ferramenta para o desenvolvimento de estudos, como instrumento de pesquisa, suporte para o ensino, memória de dados e divulgação de resultados de pesquisas. A fotografia é um documento objetivo que captura informações que aumentam o espectro de observação do pesquisador.
Os levantamentos fotográficos da biodiversidade são importantes para se identificar variações quantitativas e qualitativas da ação do homem sobre o ambiente, de forma localizada, e as mudanças globais em um sentido mais amplo. Com a comparação dessas imagens, é possível fazer uma análise sobre as mudanças ambientais nas áreas retratadas, tanto de danos causados na paisagem como em espécies animais que habitam o local. Ou seja, há um controle ambiental por meio das imagens obtidas. Imagens captadas em um mesmo local em um período determinado revelam a degradação do ambiente como um todo. É o famoso “antes” e “depois”. Um exemplo de uso da fotografia para essa atividade científica é o documentário Chasing Ice, que mostra imagens do derretimento de geleiras durante anos, com a técnica do time-lapse.
Fotografia macro
A macrofotografia nada mais é do que o registro de pequenas coisas. Nela, as imagens mostram e valorizam pequenos detalhes que não são muito perceptíveis ao olho humano. Quando o assunto é fotografia científica macro, é muito comum relacionar esse assunto a fotos de plantas e insetos. No entanto, não existe limitação do que pode ser fotografado com essa técnica.
Para que uma foto seja considerada macro, o tamanho do assunto registrado precisa ter uma proporção entre 1:1 e 10:1. Ou seja, isso acontece quando detalhes da sua imagem forem 10x maior do que o real. Uma proporção acima de 10:1 já é considerada microfotografia.
Fotografia de animais selvagens
A fotografia de animais selvagens normalmente é feita à distância, a fim de garantir a segurança do fotógrafo e a naturalidade da cena. Falei disso em um dos primeiros artigos aqui da coluna. Também fiz uma lista de algumas dicas para se realizar esse tipo de fotografia. Esse tipo de fotografia é o que mais se destaca entre todos pelo impacto que causa ao espectador e pelas mensagens contidas nas imagens. Muitas pesquisas de conservação de espécies ameaçadas de extinção são feitas com base nesse tipo de fotografia. E a cada dia, novas espécies são descobertas e redescobertas com esse trabalho.
Só citando um exemplo, temos o caso aqui no Brasil da redescoberta da rolinha-do-planalto (Columbina cyanopis), que se julgava extinta e não era vista há mais de 75 anos. Espécie afetada por queimadas, agricultura, formação de pastagens e, principalmente, pela destruição do cerrado brasileiro, entrou em declínio populacional e deixou de encantar quem costumava ter a ave por perto. Em 2015, a espécie foi redescoberta por um grupo de pesquisadores ornitólogos, com o apoio do Observatório de Aves – Instituto Butantan e da Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil (SAVE Brasil).
Quer saber mais sobre a espécie? Então dá um click aqui, onde você vai encontrar um texto excelente falando da emoção de encontrar uma espécie rara como essa.
Fotografia de flora
No início, o objetivo da fotografia de flora era o de registrar a natureza para representá-la de maneira fiel. Esse tipo de fotografia funciona como ferramenta para o desenvolvimento de diversos tipos de estudos, tais como instrumento de pesquisa, suporte para o ensino, memória de dados e divulgação de resultados de pesquisas.
Levantamentos fotográficos da flora são muito importantes para que haja identificação de variações qualitativas e quantitativas sobre a ação do homem de maneira localizada, além das mudanças globais. Ao se comparar essas imagens, é possível realizar uma análise sobre as mudanças ambientais na área. Ou seja, existe um controle ambiental baseado nas fotos que foram tiradas. Além disso, imagens periódicas de um determinado local mostram a degradação do ambiente.
Aqui eu coloco como exemplo da importância desse tipo de fotografia, o registro de uma espécie de orquídea, um pouco diferente de suas outras 30 mil “primas”. Falo da Habenaria repens, que tem hábito “aquático”. Como sabido, as orquídeas não gostam de água em excesso, pois suas raízes apodrecem e a planta morre. Mas existe essa exceção. A Habenaria repens é considerada uma planta de hábito terrestre, mas que adora brejos e margens de lagos e riachos – qualquer lugar com água estagnada ou com pouco movimento. Normalmente é vista vegetando junto com aguapés. Daí a importância desse registro para a Ciência.
E com a descrição dos quatro principais tipos de fotografia científica intimamente relacionados com a fotografia de natureza, encerro este artigo. Em um próximo material, darei sequência a esse assunto, abordando os outros tipos de fotografia científica.
Abraços e até a próxima!
Fontes: Fotografia Mais, USP, UERJ