Parece, mas não é! Conheça sete sósias do popular bem-te-vi

O bem-te-vi (Pitangus sulphuratus) é um dos pássaros mais famosos do Brasil, conhecido pelo seu canto característico, presença constante e abundante em quase todos os tipos de ambientes. Com o peito amarelo, a cabeça listrada de branco e preto e as costas em tons de marrom, ele chama a atenção tanto em áreas urbanas quanto em ambientes naturais, com seu comportamento valente. Com frequência, quem está começando a observar aves costuma achar que o bem-te-vi é único — mas a verdade é que existem vários outros pássaros muito parecidos com ele! Para quem ainda não tem o olhar treinado, essa semelhança pode causar muita confusão na hora de identificar quem é quem.

Quando a gente começa a prestar atenção nas aves, logo descobre que o bem-te-vi tem vários “primos” espalhados por aí, muito parecidos com ele. Entre as espécies que mais confundem os observadores estão o neinei, o bentevizinho-de-penacho-vermelho, o bentevizinho-de-asa-ferrugínea, o bem-te-vi-do-brejo, o bem-te-vi-pirata, o bem-te-vi-rajado e até a pequena cambacica.

Cada um deles tem suas próprias características, mas, à primeira vista, podem enganar facilmente. Nos próximos parágrafos, vou explicar por que essas aves são confundidas com o bem-te-vi e dar dicas práticas para você aprender a diferenciá-las sem erro.

Sete espécies que se parecem com o bem-te-vi

O campeão na arte de confundir observadores é, sem dúvida, o neinei (Megarynchus pitangua). De aparência muito semelhante ao bem-te-vi — com peito amarelo, dorso marrom e cabeça listrada —, ele engana facilmente até quem já tem alguma experiência. A grande diferença entre os dois está no canto: enquanto o bem-te-vi solta seu famoso grito que parece dizer o próprio nome, o neinei também faz algo parecido, mas com outra palavra! Sua vocalização é onomatopeica, repetindo sons que lembram claramente “nei-nei”. Essa diferença no canto é, na prática, a melhor maneira de distinguir um do outro, principalmente em situações em que não dá para ver a ave com clareza, como em áreas muito fechadas ou quando estamos sem binóculo.

Outros dois passarinhos que vivem confundindo quem observa são o bentevizinho-de-penacho-vermelho (Myiozetetes similis) e o bentevizinho-de-asa-ferrugínea (Myiozetetes cayanensis). Ambos têm peito amarelo e costas marrons, lembrando muito o bem-te-vi, mas são menores, com aparência mais delicada. A diferença principal entre eles está no penacho escondido no topo da cabeça: no bentevizinho-de-penacho-vermelho, ele é… vermelho! Já no bentevizinho-de-asa-ferrugínea, o penacho é amarelo. Esses penachos normalmente só aparecem em momentos de excitação, como disputas ou quando a ave está agitada. Como o penacho normalmente está oculto e o tamanho engana nossa visão, recomendo conhecer muito bem a vocalização das três espécies, pois são muito diferentes entre si.

Outra espécie que pode causar confusão é o bem-te-vi-do-brejo (Philohydor lictor). Apesar da semelhança nas cores, ele é um pouco menor e tem hábitos bem diferentes do bem-te-vi comum. Como o próprio nome já sugere, o bem-te-vi-do-brejo é encontrado principalmente em áreas alagadas, como margens de rios, poças e lagos. É uma ave mais sociável, vivendo em pares ou pequenos grupos familiares, quase sempre a pouca altura da água ou da vegetação. Seu canto é outra pista importante para diferenciá-lo: é mais discreto e menos estridente que o famoso “bem-te-vi” tradicional.

O bem-te-vi-pirata (Legatus leucophaius) já não é tão parecido com o bem-te-vi comum, mas ainda assim pode confundir, especialmente por causa da “máscara” escura na cabeça, que lembra bastante a do famoso primo. Ele é o menor dos “bem-te-vis rajados” e, durante a época de reprodução, fica praticamente o dia todo vocalizando em locais bem expostos. Um detalhe curioso é seu comportamento “pirata”: ele costuma tomar ninhos construídos por outras espécies para botar seus ovos, o que lhe rendeu esse nome curioso. E tem mais: seu canto é outra pista – ele emite um som que lembra alguém dizendo “oiiii”, de forma bem arrastada e simpática!

O bem-te-vi-rajado (Myiodynastes maculatus) tem a plumagem bastante diferente do bem-te-vi, mas a enorme semelhança no tamanho, formato do corpo e hábitos lembram tanto o bem-te-vi que muita gente acha que está vendo bem-te-vi com plumagem de imaturo (jovem). Isso acontece bastante na Ornitologia, mas é algo raro entre os tiranídeos — a família desses passarinhos normalmente já nasce com a plumagem igual à dos adultos. Como o próprio nome diz, o bem-te-vi-rajado tem as penas do peito todas riscadas, ou “rajadas”, com linhas escuras. Outra característica importante é que ele é migratório em boa parte dos municípios mais distantes da linha do Equador, aparecendo apenas em certas épocas do ano. Para completar, seu canto é bem peculiar, soando como um pequeno soluço, bem diferente da vocalização forte de seu primo.

Apesar de ser bem diferente do bem-te-vi em muitos aspectos, a cambacica (Coereba flaveola) também entra na lista de aves que confundem os iniciantes. De outra família — os Thraupídeos —, ela compartilha algumas características visuais que enganam: ventre amarelo, costas marrons e uma faixa branca sobre os olhos (o chamado supercílio). Isso faz muita gente achar que está vendo um filhote de bem-te-vi. Mas é importante saber que, mesmo durante a juventude, os filhotes de aves crescem muito rápido e têm quase o mesmo tamanho dos adultos. A cambacica, por outro lado, é naturalmente muito menor e tem uma silhueta bem diferente, o que já deveria acender o sinal de alerta para quem está atento aos detalhes.

Esses exemplos mostram como, na observação de aves, os detalhes fazem toda a diferença. Conhecer a diversidade de espécies e, principalmente, aprender a identificar seus cantos e comportamentos é essencial para acertar na identificação. Quanto mais treinamos o olhar e o ouvido, mais prazerosa e rica se torna a experiência no campo.

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