Paraíba: exemplo da falta de controle do tráfico de animais silvestres

Dimas Marques
  • Dimas Marques

    Editor-chefe

    Formado em Jornalismo e Letras, ambos os cursos pela Universidade de São Paulo. Concluiu o curso de pós-graduação lato sensu “Meio Ambiente e Sociedade” na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo com uma monografia sobre o tráfico de fauna no Brasil. É mestre em Ciências pelo Diversitas – Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, onde pesquisou a cobertura do tráfico de animais silvestres por jornais de grande circulação brasileiros. Atua na imprensa desde 1991 e escreve sobre fauna silvestre desde 2001.

    Fauna News
03 de maio de 2011
Matéria do jornal O Norte, de João Pessoa (PB), aponta o Estado nordestino como um dos principais pontos na rota do tráfico da fauna silvestre. A reportagem “Paraíba na rota do tráfico de animais”, publicada em 6 de abril de 2011, apresenta números alarmantes de apreensões de animais:

“Nos três primeiros meses deste ano, na Paraíba, os números somam mais de 2,5 mil animais apreendidos vítimas do comércio ilegal, segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). A expansão do tráfico de animais silvestres no primeiro trimestre de 2011 faz com que o número se aproxime de todos os registros de 2010, quando três mil espécies foram recuperadas.”

Feira livre em Campina Grande (PB) onde acontece o comércio de animais
Foto: Arquivo SOS Fauna

O jornal também salienta que 10% de todos os animais silvestres apreendidos no país estavam na Paraíba. As cidades que apresentaram um maior número de ocorrências foram Cajazeiras, João Pessoa, Patos e Itabaiana. “A BR-230 vai até o Amazonas e isso facilita o esquema. A rota pelo mar também insere a Paraíba como ponto estratégico pela sua localização, sobretudo favorecendo o comércio internacional”, declara Marco Vidal, chefe do setor de Proteção Ambiental (fiscalização) do Ibama.

Para o jornal, Vidal ainda afirma:

“Há muitos casos em que o tráfico já nasce na Paraíba, em um sítio, onde são criados esses animais. Há também muitos casos de receptação, que conta com a conivência de caminhoneiros e possivelmente de motoristas rodoviários”.

Na Paraíba, bem como em quase todo o Brasil, a maior parte dos animais tem como destino as feiras livres. Dados das ONGs SOS Mata Atlântica, Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas) e WWF-Brasil demonstram que entre 60% e 70% do comércio ilegal da fauna silvestre no país é voltado para o abastecimento do mercado interno. Estima-se que entre dois milhões e quatro milhões de animais silvestres vivam em cativeiros particulares.



Ave exposta em feira livre de Campina Grande (PB). O estado dos animais quando chegam para vendida é, muitas vezes, péssimo
Foto: Arquivo SOS Fauna

Esse hábito explica-se, em parte, por uma herança cultural indígena e européia. No Brasil, os índios criavam os animais selvagens como bichos de estimação, os chamados xerimbabos – termo da língua tupi que significa “coisa muito querida”. Na Europa, o convívio com exemplares da fauna silvestre como pets ou como ornamentos em residências é um fato já na Idade Média e que se popularizou com o advento das Grandes Navegações (final do século XV e século XVI).

Na Paraíba, aves e répteis lideram a preferência no comercio ilegal, mas também há registros de peixes, insetos, mamíferos e anfíbios traficados. De acordo com a reportagem de O Norte, os animais do próprio Estado ou que chegam até seu território seguem para o aeroporto de Recife, no caso do comércio internacional, ou são encaminhados via rodovias para o Sudeste (principalmente São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais).

A reportagem informa que o Ibama da Paraíba conta com apenas 30 fiscais para todo o Estado – equipe essa que não atua exclusivamente no combate ao tráfico de animais. Para tanto, o órgão ambiental tem feito parecerias com a Polícia Rodoviária Federal, Polícia Militar, Polícia Civil e Polícia Federal. Vidal afirma que a maior parte das apreensões ocorre em conseqüência de denúncias. 



Ave após ser vendida em Campina Grande (PB)
Foto: Arquivo SOS Fauna

Mais uma vez, o poder público mostra-se ineficiente no combate ao tráfico de animais silvestres pela via repressiva. A matéria de O Norte também não abordou se está sendo feita alguma atividade educacional para diminuir a demanda da população.

Aproveito a oportunidade para apresentar alguns números que podem ajudar a contextualizar um pouco o tráfico de animais silvestres (incluindo seus subprodutos, como peles e garras):

– Terceira atividade ilegal mais rentável do mundo (atrás do tráfico de drogas e do comércio ilegal de armas): entre 10 e 20 bilhões de dólares por ano, sendo o Brasil responsável por uma fatia que varia de 5% a 15% do total;
– Segunda causa da perda de biodiversidade (atrás da perda de habitat);
– Dependendo da fonte consultada, o número de animais silvestres retirados da natureza no Brasil, por ano, é 12 milhões ou 38 milhões;
– Estima-se que 95% do comércio de animais silvestres no Brasil seja ilegal;
– Há pesquisas que apontam haver 60 milhões de brasileiros criando espécimes da fauna nativa em suas residências.

– Leia a matéria do jornal O Norte sobre o tráfico de animais na Paraíba.
– Conheça o trabalho da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas).
– Conheça o trabalho da SOS Fauna.
– Leia “O Tráfico de Animais Silvestres no Brasil: das Origens às Políticas Públicas de Combate”.

Fauna News

Sobre o autor / Dimas Marques

Formado em Jornalismo e Letras, ambos os cursos pela Universidade de São Paulo. Concluiu o curso de pós-graduação lato sensu “Meio Ambiente e Sociedade” na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo com uma monografia sobre o tráfico de fauna no Brasil. É mestre em Ciências pelo Diversitas – Núcleo de Estudos das […]

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