Por Dimas Marques
Editor-chefe
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O governo do Pará anunciou sexta-feira, 5 de junho, que irá construir o primeiro centro de triagem e de reabilitação de animais silvestres (Cetras) do Estado. A estrutura está planejada para receber até 10 mil animais por ano e tem previsão de começar a funcionar no segundo semestre de 2021. No mesmo dia, no Mato Grosso, a prefeitura de Lucas do Rio Verde inaugurou o primeiro centro do Estado, o Cetas Coração do Cerrado.
O Pará, segunda maior unidade da federação do país, com extensas áreas de floresta Amazônica e rica biodiversidade, abriga animais de 3.813 espécies da fauna nativa e não tem centro especializado no atendimento de silvestres. “Atualmente, o Pará lida com os animais silvestres, sejam os apreendidos ou abandonados, com o apoio do Batalhão de Polícia Ambiental (BPA), da Semas, de universidades e com a iniciativa de voluntários. Mas ainda assim, alguns animais são abandonados à própria sorte”, declarou o secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Estado (Semas), Mauro O’de Almeida.
O anúncio da construção do Cetras foi parte dos eventos realizados pelo Dia Mundial do Meio Ambiente. O centro será construído na Região Metropolitana de Belém. O investimento inicial previsto, que inclui a obra, o aparelhamento e três anos de custos operacionais (como alimentação e medicamentos, por exemplo), é de R$ 24.118.460,15. O recurso virá da mineradora Hydro, resultante de um processo de compensação ambiental de empreendimento de extração de bauxita (matéria prima para fabricação de alumínio), em Paragominas.
O detalhamento técnico do Cetras está pronto e cabe à mineradora Hydro a execução da obra. O projeto prevê a construção de uma área exclusiva para recebimento, tratamento e destinação de animais apreendidos ou resgatados que necessitem de atendimento especializado e o chamado Bioparque. Neste espaço, animais reabilitados e sem condições de retorno à vida livre ficariam expostos para visitação pública. A intenção é ter um local para abrigar esses espécimes bem como desenvolver atividades de educação ambiental. A exposição de animais junto a um Cetras tem causado controvérsia entre especialistas.
“Quando os profissionais especializados avaliarem que estes animais, mesmo minimamente recuperados, ainda estariam vulneráveis e seriam presa fácil quando soltos no ambiente selvagem, eles devem ser encaminhados ao Bioparque, onde continuarão recebendo cuidados especiais, mas dessa vez poderão ser contemplados por crianças, famílias, estudantes, pesquisadores, turistas e público em geral”, relata o diretor de Planejamento Estratégico e Projetos Corporativos da Semas, Wendell Andrade, já ciente da polêmica.
O primeiro centro do Mato Grosso
O Centro de Triagem de Animais Silvestres Coração do Cerrado foi construído em terreno de 10 mil m², doado pela prefeitura, e conta com 250 m² de área construída de 5 mil m² de mata. O investimento de R$ 504 mil foi resultado de um convênio com a Secretaria de Estado do Meio Ambiente. Ele será gerenciado pela ONG Amibem.
O Mato Grosso abriga fauna dos biomas Pantanal, Cerrado e Amazônia. Animais de 5.195 espécies vivem no Estado, que sofre com a pressão agropecuária pela abertura de pastagens e áreas agricultáveis.
De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, nas últimas décadas, “o desmatamento na Amazônia brasileira tem se concentrado ao longo do chamado Arco do Desmatamento, que se estende do sul do Pará, norte de Mato Grosso, Rondônia, ao sudeste do Acre. Mais especificamente, 70% do desmatamento na Amazônia Legal tem ocorrido em cerca de 100 municípios nos estados de Mato Grosso, Pará e Rondônia, que representam em torno de 20% da área total da região.”
Centros de silvestres na Amazônia
A Amazônia é um dos mais biodiversos biomas do planeta, com grande variedade de animais. Estão nessa região os estados do Pará, Amazonas, Amapá, Acre, Rondônia e Roraima e partes do Maranhão, Tocantins e Mato Grosso. Cerca de 40% do território brasileiro está na Amazônia.
Ainda assim, o número de centros de tiragem e de reabilitação de animais silvestres é muito pequeno: sete em funcionamento (Maranhão, Tocantins, Mato Grosso, Amazonas, Amapá, Rondônia, Roraima e Acre). No Brasil, há 47 centros de atendimento de fauna não aquática em atividade. Ou seja, em 40% do território brasileiro, onde está a maior floresta do planeta, estão somente 14,8% dos Cetras do país (conhecidos também com Cetas ou Cras).
Vale destacar que em Manaus (AM), o único Cetras em funcionamento é o do Ibama. O centro da prefeitura fechou e não tem previsão para reabrir.