
Por Dimas Marques
Jornalista, pesquisador do Diversitas-USP e editor responsável do Fauna News
dimasmarques@faunanews.com.br
“O macaquinho-prego Kyle, seis anos, é o xodó da família de Edna Brasil, moradora de Navegantes. Depois que seus filhos saíram de casa, ela passou por uma depressão e um câncer, e o bichinho, que ela trata como filho, deu um novo sentido a sua vida. Só tem um problema: Edna ganhou o animal de um conhecido quando ele tinha apenas cinco meses, e ela não tem o certificado de origem emitido pelo Ibama e, portanto, o criava em situação irregular.
Há cerca de dois meses, Kyle saiu de casa e, após fugir de alguns cachorros na rua, foi parar em uma escola. A diretora chamou a Polícia Militar Ambiental, que apreendeu o bichinho. Desde então, Edna desesperou-se e vem tentando mobilizar apoiadores por meio das redes sociais. Um texto em que ela pede ajuda vem sendo compartilhado em grupos de WhatsApp e também no Facebook.
— Eu sempre tive paixão por macaco-prego, sempre achei lindo e dizia que eu teria um macaquinho um dia. Kyle é como uma criança. Ele sempre viveu assim, eu o criei igual a um bebê. Era acostumado com carinho e cuidado, dormia comigo na cama, tinha alimentação equilibrada — conta Edna.” – texto da matéria “Moradora de Navegantes faz campanha para que macaco-prego criado como filho volte para casa”, publicada em 1º de setembro de 2017 pelo site do jornal Diário Catarinense
Edna Brasil sempre quis um macaco-prego. Quando o acaso a colocou perante um dilema, ela escolheu a opção errada. Entre renunciar ao seu desejo e não aceitar o animal ofertado com presente (ou até tentar entregar o primata às autoridades), essa senhora optou pela situação ilegal, recebendo o filhote com alguns meses de vida (e todas as chances de ser adotado por uma fêmea da espécie e ser introduzido em algum grupo), dando-lhe um nome e o transformando em algo que não é gente nem um macaco pleno.
O Estado brasileiro é também (senão o maior) culpado pela situação criada. Não tem uma Política Nacional de Fauna. Não tem uma boa legislação sobre o tema. Não tem fiscalização eficiente. Não tem educação ambiental. Não tem infraestrutura suficiente para receber animais apreendidos. Não tem programas suficientes de reabilitação. Não tem áreas de soltura em quantidade para os bichos que podem voltar à vida livre. As que existem, não são monitoradas.
Enfim, o Estado brasileiro é omisso.
Mesmo assim, Edna errou.
E quem sofre é Kyle, que o Estado e Edna não permitiram ser um macaco-prego.
Futuro do animal deverá ser decidido na Justiça, já que Edna já tem uma advogada que irá pleitear a guarda.