
Por Jefferson Leite
Veterinário especialista em Perícia Médica Veterinária e em Saúde Pública, coordenador do Núcleo de Prevenção e Controle de Arboviroses do Centro de Controle de Zoonoes de Mogi das Cruzes (SP) e clínico de animais.
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O recente surto de febre amarela no país, que ainda está em curso, a febre maculosa, a malária, a leishmaniose e outras doenças de caráter zoonótico vêm causando preocupação nas autoridades de saúde. São doenças emergentes ou que estão apresentando uma reemergência mais urbanizada, diferentemente da sua forma original. O que antes eram doenças de ocorrência estrita ao ambiente rural ou silvestre, hoje assustam os moradores dos centros urbanos. Sim, é óbvio que os mecanismos de diagnósticos são melhores que os de antigamente e, assim, casos que antes passavam desapercebidos agora são detectados. Porém, uma situação, já há muito tempo alertada por pesquisadores, é negligenciada pelas autoridades e pela população em geral: a questão ambiental.
Todas as doenças citadas no início do texto são zoonoses, que têm animais da fauna silvestre como hospedeiros ou reservatórios naturais e vetores que também são de origem silvestre. Somente a melhoria das condições diagnósticas não consegue explicar essa ressurgência espantosa de casos. Degradação ambiental, poluição, desmatamentos entre outros danos ambientais causados pelo homem estão por trás desse cenário.
Os efeitos das atividades humanas sobre o meio ambiente têm sido apontados como os grandes responsáveis por essa situação. Nas regiões urbanas e nas áreas agrícolas, ocupadas há muito tempo pelas atividades humanas, quase não restam vestígios dos ecossistemas naturais e, mesmo assim, o mundo natural continua influenciando as modernas sociedades através das doenças.
O aumento da temperatura global favorecendo a proliferação de insetos vetores, a adaptação desses vetores ao ambiente urbanizado (livres da concorrência e de predadores naturais), o descontrole populacional e a adaptação ao ambiente antrópico de algumas espécies de animais silvestres, além de um maior avanço da atividade humana em ambientes naturais, têm sido a mola propulsora das doenças vetoriais e outras zoonoses.
A medicina humana deveria, há muito tempo, deixar de ser uma atividade exclusiva dos médicos e da sua relação com o paciente para também ser uma preocupação de veterinários, biólogos e outras áreas da ciência. A medicina humana deveria também preocupar-se mais com a relação do homem com o meio ambiente.
O termo “Saúde Única” (One Healt) é um exemplo. Surgiu para traduzir a união indissociável entre saúde humana, saúde animal e saúde ambiental e tem ganhado espaço gradativo dentro das discussões científicas que tratam de questões ligadas à epidemiologia, além, é claro, de propor a adoção de políticas públicas efetivas na prevenção e controle de enfermidades.
Embora ainda caminhemos a passos lentos quando o assunto é saúde humana e meio ambiente, há uma maior preocupação de vários setores da sociedade em elaborar políticas e ações no contexto da conservação ambiental e isso precisa ser estimulado. É preciso entender que a garantia de nossa sobrevivência depende da nossa consciência ecológica e da conservação do meio ambiente.