Por Elisângela de Albuquerque Sobreira
Médica Veterinária e mestre em Ecologia e Evolução pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Doutoranda em Animais Selvagens pela Universidade Estadual Paulista (Unesp/Botucatu). Já foi Gerente do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de Anáplois (GO), onde fundou e mantém o Centro Voluntário de Reabilitação de Animais Selvagens (CEVAS)
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Nematódeos (tipo de vermes) causadores de zoonoses intestinais vêm sendo reconhecidos, cada vez mais, como causa principal de problema de saúde pública. A prevalência dessas parasitoses pode estar relacionada à capacidade desses parasitas resistirem às diferentes condições ambientais.
O solo, com relação aos helmintos parasitas (grupo de nematódeos), se comporta como um hospedeiro intermediário. Recebe fezes ou água contaminada por parasitas em estágios não infectantes, oferecendo-lhes condições para o desenvolvimento, e protege os parasitas em estádios infectantes durante certo tempo para, posteriormente, transmiti-lo ao homem.
Há uma grande variedade de nematódeos que podem infectar os primatas não-humanos e o homem. Dentre eles estão o Ancylostoma duodenale, o Strongyloides stercoralis e o S. fulleborni; Oesophagostomum apiostomum, O. aculeatum e O. bifurcum. A esofagostomose (doença em que vermes, os esofagóstomos, infestam o intestino grosso) causada por nematódios do gênero Oesophagostomum (Conoweberia) tem sido detectada em grandes macacos, no homem e em macacos africanos; sendo que Oesophagostum stephanostomum foi descrita para o Brasil como infecção humana. Primatas não-humanos não apresentam sintomas característicos, mas no homem provoca dor abdominal e desconforto.
Na patologia de primatas não-humanos verifica-se a presença de nódulos escurecidos nas paredes do ceco, cólon e reto. Em humanos a cavidade abdominal apresenta granulomas (como se fossem tumores).
Outra doença com sintomas e patologia similar à esofagostomose è a ternideníase. Causada por Ternidens deminutus, afeta também macacos asiáticos e africanos, chimpanzé e o homem, sendo que neste último podem ocorrer hemorragia intestinal e peritonite adesiva crônica. Trichostrongylus colubriformis, Ascaris lumbricóides, Gongylonem pulchrum e filarídeos como Dirofilaria immitis, Onchocerca volvulus, dentre outros, também são respnsáveis por ternideníase.
A estrongiloidíase afeta Pongo spp. (orangutango) e humanos, especialmente em áreas tropicais e subtropicais da Terra. A transmissão direta se faz pela penetração da larva filariforme na pele ou nas membranas de mucosas, que provocam reações locais (urticárias), podendo ainda ocorrer dispnéia e diarréia muco-hemorrágica. Achados de necropsia são hemorragias, abcessos pulmonares e enterocolite (inflamação do intestino delgado e do cólon) catarral-hemorrágica.
Existe alta incidência de Mansonella ozzardi (espécie de nematódeo) no município de Tefé (Amazonas) em macacos e humanos. A freqüência de filarias em primatas não é rara na América do Sul Já foram descritas no Pará (Dipetalonema caudis-pina, D. gracilis e D. graciliformes), Amazonas e Mato Grosso (D. Gracilis); Amazonas (Mansonella mystaxi) e no Leste (M. zakii).
Portanto, a criação de primatas em cativeiro oriundo de tráfico gerará transtornos não apenas para a saúde dos animais, mas também para os seres humanos devido às inúmeras zoonoses que poderão se transmitidas.