
Por Elisângela de Albuquerque Sobreira
Médica Veterinária e mestre em Ecologia e Evolução pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Doutoranda em Animais Selvagens pela Universidade Estadual Paulista (Unesp/Botucatu). Já foi Gerente do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de Anáplois (GO), onde fundou e mantém o Centro Voluntário de Reabilitação de Animais Selvagens (CEVAS)
nossasaude@faunanews.com.br
Os parques ambientais têm como objetivo a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica. A recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico devem ser permitidos com o intuito de desenvolver atividades de educação e interpretação ambiental. No entanto, as interações entre os visitantes do parque e os macacos-prego vêm, gradualmente, tornando-se conflituosas, o que tem comproemetido o bem-estar dos primeiros em relação ao usufruto de suas atividades de recreação e lazer junto à natureza. Prejuízos diversos como a perda de objetos pessoais, alimentos furtados pelos primatas e lesões corporais provocadas por mordidas dos animais têm sido relatados.
As mordeduras ocorrem frequentemente como resultado de exposição ocupacional de fazendeiros, laboratoristas e veterinários ou ainda de atividades recreacionais em caçadores, indivíduos que capturam animais com armadilhas, campistas e proprietários de animais de estimação exóticos. Geralmente, a microbiota das mordeduras reflete a microbiota bucal do animal que morde, sendo os patógenos envolvidos em infecções causadas por mordeduras produzidas por primatas não humanos semelhantes aos isolados de mordeduras humanas.
As mordeduras provocam, simultaneamente, lesões por compressão dos tecidos, determinando esmagamento dos tecidos na zona atingida, e por perfuração, dando origem às necroses puntiformes, correspondentes à penetração profunda dos dentes caninos do animal.
A cavidade bucal e os dentes dos macacos, de um modo geral, constituem meio hiperséptico, com associação de microbiota saprófita (que se alimenta de matéria orgânica em decomposição) e patogênica extremamente polimorfa (variadas formas), além de enzimas e produtos de degradação biológica, muitas vezes tóxicos.
Os micro-organismos são conseqüência dos hábitos alimentares dos animais, que incluem desde frutas variadas até pequenos roedores e insetos, ou ao costume de levar constantemente as mãos contaminadas à boca, até mesmo com matéria fecal. Por outro lado, os micro-organismos podem, também, fazer parte da própria microbiota dos animais que foram isolados a partir da superfície cutânea de primatas não humanos.
Portanto, recomenda-se apenas admirar esses animais à distância para evitar acidentes por mordeduras e transmissões de enfermidades pelas mesmas.