
Por Elisângela de Albuquerque Sobreira
Médica Veterinária e mestre em Ecologia e Evolução pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Doutoranda em Animais Selvagens pela Universidade Estadual Paulista (Unesp/Botucatu). Já foi Gerente do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de Anáplois (GO), onde fundou e mantém o Centro Voluntário de Reabilitação de Animais Selvagens (CEVAS)
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As infecções micóticas foram diagnosticadas amplamente nos primatas não-humanos em cativeiro. A palha e o feno utilizados como cama têm sido taxados como uma fonte importante de esporos, facilmente inalados porque esses animais são propensos a neles esfrega-se e brincar.
Nos animais submetidos a uma terapêutica antibiótica prolongada, pode apresentar-se a Candidíase como infecção secundária. Em símios mantidos em estreita relação com colônias de aves, tem-se assinalado o aparecimento de Aspergilose. O Aspergillus, que é tramnsmitido pela inalação dos esporos contidos na palha ou no feno, pode ser secundário ou predispor o animal a uma tuberculose.
Os fungos encontram-se entre aqueles agentes patógenos que infectam rapidamente quando a flora normal está alterada por uma administração prolongada de antibióticos, o que pode representar um sério problema nas colônias de laboratórios e zoológicos. À exceção das micoses superficiais, as infecções fúngicas não são consideradas contagiosas. A contaminação de modo geral pode ocorrer pelo contato acidental com os fungos do solo e da vegetação, onde eles vivem como saprófitos (organismos que se alimentam de matéria orgânica originária de processos de decomposição). Muitas vezes os fungos são apenas agentes secundários ou oportunistas.
Actinomyces (actinomicose)
Infecção crônica supurativa que acomete mais frequentemente a região da nuca, o abdômen e os pulmões. Segundo Aldoory (1972), a actinomicose é uma infecção sistêmica que afeta tanto o homem como os animais, caracterizada por infecção granulomatulosa endógena, de caráter crônico e supurativo, podendo apresentar-se na região cervical, torácica ou abdominal e exsudar material purulento contendo filamentos (bacilos) gram-positivos. Weidman (1935) diagnosticou o Actinomyces israelii em Cebus capucinus e Ateles geoffroyi através do exame do exsudato de abcesso nasal. Trabalhos realizados por Fiennes (1967) confirmaram a presença de actinomicose nos primatas do Velho Mundo, como Macaca maura e Hylobates moloch. Por sua vez, Altman e Small (1973) a descrevem em Mandrillus leucophaeus. Acontece principalmente em animais velhos e de pelagem preta. Não se sabe ao certo a sua causa, se é devido a queda de resistência, deficiência alimentar ou genético. Cotran et al.(1989) verificaram que no homem o Actinomyces israelli é observado com maior frequência e mais raramente o A.viscosus, A.odontolyticus e A. naeslundii. Os actinomicetos são agentes comensais presentes na cavidade bucal (tonsilas, criptas, tártaros e cáries), trato alimentar e vagina, onde invadem os tecidos em casos de traumatismos (cirurgias) ou infecções bacterianas. De certa forma pode ser considerado como um agente oportunista.
Candidíase
Também denominada de candidose, é uma infecção causada por fungos do gênero Candida. O agente mais comum é Candida albicans, mas outras espécies têm sido também identificadas como: Candida tropicalis, Candida glabrata, Candida krusei, Candida parapsilosis, Candida kefyr, Candida Kefyr, Candida guilliermondii, Candida lusitanae.
Candida albicans tem sido isolada da boca, tubo digestivo, intestino, orofaringe, vagina e pele de indivíduos sadios.
A maior parte das infecções causadas por Candida albicans é de origem endógena. Mais recentemente, a transmissão exógena, principalmente intra-hospitalar, de Candida albicans e de outras espécies do gênero, tem sido relatada. O fungo tem poder invasor em pacientes debilitados pelo tratamento com antibióticos e drogas imunossupressoras e no decurso de doenças crônicas. Prolongando-se a vida dos indivíduos, ao mesmo tempo, aumenta-se a possibilidade das infecções oportunísticas, o que tem acontecido em todos os países.
A candidíase sistêmica é grave. O diagnóstico em vida é difícil devido ao polimorfismo das lesões, variabilidade de sinais e sintomas que não são específicos. O isolamento do microrganismo do sangue nem sempre é conseguido.
As principais localizações da candidíase sistêmica se verificam nos rins, cérebro, coração, trato digestivo, brônquios, pulmões e sangue. Febre, mal-estar geral, dor muscular, erupção cutânea e endoftalmites são alguns dos sintomas mais freqüentes.
Como tratamento são utilizados Nistatina, anfotericina B, pimaricina e imidazólicos como itraconazol e fluconazol, por via oral; violeta de genciana e ácido bórico têm sido empregados, dependendo da escolha, da forma clínica da micose e do estado geral do paciente.
As doenças fúngicas nos primatas têm aumentado de quantidade atualmente devido ao constante número de animais traficados, pois os animais estão imunodeprimidos devido ao estresse sofrido por longas horas e infelizmente por dias, para serem comercializados ilegalmente como animais de estimação em outras cidades ou até mesmos em outros países. Dependendo da resistência imunológica, idade, ambiente, dentre outros, noventa por cento dos animais traficados morrem devido a ganância do ser humano em lucrar com a venda dos mesmos, que não se importa com a vida e bem-estar dos animais.