Órgãos ambientais não confirmam se pessoas foram feridas por onças-pardas em PE

Órgãos ambientais de Pernambuco e do governo federal não confirmam a ocorrência dos dois casos de onças-pardas (Puma concolor) terem causado ferimentos em pessoas durante janeiro. O Fauna News entrou em contato com a Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH), o Ibama e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). A imprensa da região noticiou bastante os relatos.

O primeiro caso teria ocorrido dia 13, em Carnaubeira da Penha. A agricultora Maria Inez Freire Barros de Sá, de 58 anos, relatou para a TV Asa Branca (retransmissora da Rede Globo) que estava na roça, quando teria aparecido uma onça-parda e partido para cima dela. Após conseguir escapar do animal, chamou pelo filho e foi encaminhada para o hospital Coronel Álvaro Ferraz, em Floresta. Em seguida, ela transferida para o hospital Professor Agamenon Magalhães, em Serra Talhada.

O segundo caso teria acontecido no dia 17, em Belém de São Francisco, a cerca de 90 quilômetros de Carnaubeira da Penha. A identidade da pessoa envolvida não foi divulgada.

O Fauna News entrou em contato com a CPRH e solicitou alguma comprovação técnica da interação de onças-pardas com seres humanos nesses dois casos, mas o órgão não respondeu.

Já o Ibama afirmou que está investigando junto com o órgão estadual, mas que, até o momento, não houve manifestação formal por parte da CPRH sobre qualquer confirmação de que se trata, de fato, de interações com onças-pardas.

De acordo com a bióloga e chefe do Núcleo de Gestão Integrada do ICMBio responsável pela Área de Proteção Ambiental e pelo Parque Nacional do Boqueirão da Onça, onde se concentram a populações de onça-parda e de onça-pintada (Panthera onca) na Caatinga, Claudia Bueno de Campos, o segundo caso não tem qualquer elemento ou registro (de Belém de São Francisco) que confirme sua veracidade.

No primeiro caso, há relatos e registros que precisam ser avaliados, tais como a descrição do animal e o formato dos ferimentos. Apesar da onça-parda ser nativa e existir em Pernambuco, felinos da espécie não estão em todos os lugares, o que depende das condições da vegetação nativa e da presença de presas, por exemplo.

Onça-parda em perigo

Segundo o ICMBio, a onça-parda é classificada como “em perigo” de extinção na Caatinga, “devido, principalmente, ao rápido avanço da destruição das áreas que habita”, explica Claudia.

Apesar de ser uma espécie que consegue utilizar áreas antrópicas, ou seja, que já foram alteradas pelos humanos, ela depende de áreas com vegetação de caatinga nativa para sobreviver”, completa a bióloga.

Atualmente, empreendimentos eólicos e solares de geração de eletricidade vêm destruindo o ambiente nativo das onças. Além disso, há a mineração. Esses dois fatores são os que mais afetam a espécie por conta da dimensão e velocidade de alteração do ambiente. Tanto a perda da vegetação quanto o barulho fazem com que esses felinos se desloquem, podendo ficar mais próximos de residências humanas.

Em segundo lugar vem a caça e o abate por retaliação, por parte de pessoas que acreditam serem as onças as responsáveis pela morte de rebanho, e a caça por entretenimento. Em dezembro de 2023, circulou um vídeo publicado nas redes sociais de caçadores expondo o corpo assassinado de uma onça-parda, em Mirandiba, sertão de Pernambuco, não muito distante de Carnaubeira da Penha. Os criminosos foram identificados e o Ibama aplicou multa. Questionado pelo Fauna News, o órgão respondeu que esse foi o único caso registrado no Estado.

A foto de uma onça-parda morta, identificada como a responsável pelos ferimentos da agricultora Maria Inez, já está circulando por redes sociais e por site de imprensa local.

Claudia também é co-fundadora e colaboradora externa do Programa Amigos da Onça, o qual vem atuando na conservação das espécies de onça na Caatinga desde 2012. O programa visa desenvolver alternativas que promovam a coexistência humano-fauna, como na criação de currais, para evitar possíveis predações e futuras retaliações por meio da caça.

Somado a tudo isso vem as mudanças climáticas como terceiro fator de impacto nas onças, transformando regiões semiáridas em áridas, nas quais a falta de água é mais crítica. “Considerando que a Caatinga é classificada como Floresta Tropical Sazonalmente Seca e está entre as regiões com ocorrência de áreas desertificadas e em processo de desertificação, este cenário se relaciona à não recuperação de áreas degradadas por ações antrópicas, o que pode comprometer a disponibilidade de água para dessedentação (beber água) desta espécie e de outras da fauna local, assim como para a população humana”, finaliza Claudia.