Gabriel Gatti
Aluno de Jornalismo da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e integrante do portal Impacto Ambiental para o Projeto Nova Geração
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Equipes da Estação Ecológica (Esec) de Murici do ICMBio e do Instituto de Meio Ambiente de Alagoas (IMA) apreenderam 20 pássaros e um papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva) durante ação de fiscalização realizada dia 6, na zona rural de União dos Palmares. Um homem, alvo de denúncias que motivaram a operação, foi detido com seis aves, sendo duas delas da espécie saíra-sete-cores (Tangara seledon), ameaçada de extinção no Estado. A caminho do local, os agentes ainda recolheram armas, armadilhas para captura de animais silvestres e gaiolas.
A operação foi organizada a partir de denúncias de moradores. No trajeto até a residência do suspeito de criação de pássaros sem autorização, as equipes da Esec de Murici e do IMA encontraram outras atividades irregulares. Segundo o analista ambiental do ICMBio e chefe da Esec, Marco Antonio de Freitas, o deslocamento das equipes para qualquer atividade procurando por infrações é uma rotina. “Passamos na frente da casa da pessoa para ver se ela cria animais silvestres, se ela tem cães de caça. Quando constatado o flagrante, já gera uma condução por posse ou porte ilegal de arma de fogo. Dependendo da situação, gera multa quando tem animais mortos”. Foi o que aconteceu na ação do início do mês, que resultou na detenção de mais dois homens pela posse de 15 aves, duas espingardas e duas tatuzeiras (armadilhas para captura de tatus).
Na sequência, quando localizado o suspeito alvo das denúncias, as equipes apreenderam as outras seis aves. Ele foi multado em R$ 24 mil.
Esse tipo de operação é possível pois Freitas realiza um trabalho intenso de investigação de crimes ambientais na área da Área de Proteção Amibental (APA) de Murici, unidade de conservação federal que engloba 10 municípios. A região, criada para conservar a Mata Atlântica, apresenta uma área de 133 mil hectares. Para combater traficantes de animais e caçadores, as equipes de fiscalização organizam rotas diárias em busca de atividades ilícitas. Além disso, elas contam com o apoio de muitos moradores que, assim como no caso da operação realizada em União dos Palmares, denunciam os crimes.
Apesar do combate intenso, o tráfico de fauna ainda é comum no Nordeste. Esse crime tem base no hábito dos moradores de criarem animais silvestres dentro de suas residências. Os habitantes buscam aves que chamam a atenção pelo canto e beleza, prejudicando todo o trabalho de conservação realizado nas estações ecológicas.
Durante as ações de fiscalização, Freitas e a equipe buscam educar as pessoas, explicando que animais silvestres capturados na natureza não estão aptos para a vida em cativeiro e ainda resgatam os bichos. Em 2017, ano em que o analista ambiental iniciou seu trabalho na Esec de Murici, ele apreendeu 522 aves, seguido por 504 em 2018, 677 em 2019, 1.721 em 2020 e, até agora, já foram 925 em 2021. No total, foram resgatadas 4.349 aves. Além da apreensão de fauna traficada ou criada ilegalmente, também foram recolhidas 165 carcaças de animais de 21 espécies que foram caçados. A maioria era de mamíferos. As operações ainda tiraram de circulação 187 espingardas utilizadas para abate de fauna.
Todos os animais apreendidos foram levados para o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do Ibama, em Maceió. Nesses quase cinco anos de patrulhas realizadas pela região da APA de Murici, Freitas afirma que já houve um retorno muito significativo para a biodiversidade local e que há uma maior conscientização da população, visto que “nas áreas de ronda contínua quase não há apreensões de armas e de animais mortos ou vivos”.