
Análise de Dimas Marques
Editor-chefe
dimasmarques@faunanews.com.br
É uma generalização, mas cada dia que passa, passo a acreditar mais nela: se um animal silvestre cruza o caminho de seres humanos e passa ileso, ele está com sorte.
Infelizmente, em muitos casos a sorte não se manifesta.
“A onça-parda que foi resgatada neste sábado (31) após ficar 6 horas em cima de uma mangueira em Marília (SP) foi atropelada na noite de domingo (1º), na rodovia que liga Garça a Alvilândia.
De acordo com os bombeiros, após o resgate no sábado, o animal estava sem ferimentos e ainda durante a noite foi solto em uma área de reserva ambiental na região de Gália.

O macho de cerca de 3 anos andou por três quilômetros na reserva e acabou indo para um sítio vizinho para caçar. Quando o animal voltava para reserva depois de caçar um gato foi atingido por um carro.
A onça foi levada para uma clínica veterinária para receber o atendimento e sofreu um ferimento em uma das patas, mas, segundos os veterinários, não corre risco de vida.
Da clínica, ela foi encaminhada para o hospital veterinário de Botucatu na manhã desta segunda-feira (2). O felino foi recebido por volta de 12h pela equipe de veterinários.
A onça está sendo medicada com antibióticos, mas o seu quadro de saúde é considerado bom, apenas com uma “fratura discreta” em uma das tíbias.
Ela deve ficar no hospital veterinário por aproximadamente sete dias, quando passará por nova avaliação. Após esse período, se estiver em condições, deverá ser solta na natureza mais uma vez.” – texto da matéria “Após ser devolvida à natureza, onça que ficou 6h em árvore é atropelada no interior de SP”, publicada em 2 de novembro de 2020 pelo portal G1
Apesar das duas experiências desagradáveis com seres humanos (o resgate de uma mangueira e o atropelamento), a onça está viva e deve voltar à natureza. São inúmeros os casos em que os encontros com o mundo dos homens termina na morte dos animais.
Foi o que aconteceu com a onça-parda Anhanguera em 2012. Impossível não relacionar os casos dessas duas onças-pardas, ambos ocorridos no interior de São Paulo, envolvendo resgate e posterior atropelamento.
“A história da onça-parda Anhanguera é uma das mais emblemáticas quando se aborda o conflito entre estradas e animais silvestres. Às 5h de 14 de setembro de 2009, o felino, um jovem macho com idade variando entre 10 meses e um ano, sai da mata e chega às margens da via Anhanguera, na altura do município paulista de Louveira. Decidido a chegar ao outro lado, ele arrisca, avança para o meio da pista e acaba atingido por um veículo.
A rodovia foi parcialmente fechada até a chegada de bombeiros e profissionais da Associação Mata Ciliar, ONG de Jundiaí (SP) que mantém uma parceria com a concessionária CCR AutoBAn para atender animais resgatados na estrada e que possui o Centro Brasileiro para Conservação de Felinos Neotropicais. A onça foi então sedada, levada para a sede da ONG e ganhou o nome da rodovia.

Foram diagnosticadas fraturas em costelas e um dente canino quebrado. Apesar das lesões, foi constatado que Anhanguera tinha potencial para voltar à natureza. O processo de recuperação do felino durou um ano e seis meses, até sua soltura em 10 de março de 2011 em uma mata da Serra do Japi.
A história de Anhanguera foi tratada como um caso de sucesso. O felino, com um rádio-colar, foi monitorado por meses, até a bateria do equipamento acabar. Por pouco mais de um ano, ele viveu novamente a plenitude de sua condição selvagem.
Repetindo o ocorrido em 2009, Anhanguera novamente voltou a estar na margem de uma estrada. Era 18 de abril de 2012. Dessa vez a faixa de asfalto tinha outro nome: rodovia dos Bandeirantes. Na altura do km 55, o felino aventurou-se para chegar à mata do outro lado e foi atropelado. A sorte não se repetiu: o impacto causou fraturas na coluna e nas costelas, além de ruptura do fígado e do diafragma. A morte foi instantânea.” – trecho do texto “Atropelamento de fauna: o emblemático caso da onça Anhanguera”, publicado pelo Fauna News em 10 de maio de 2013

A ocupação humana está acuando os animais que, sem alternativas, são obrigados a se arriscar em territórios transformados, com rodovias, cidades, pastos, plantações, etc. E a sociedade humana não parece querer mudar isso.
Que a história de Anhanguera não se repita…