
Por Dimas Marques
Jornalista e editor responsável do Fauna News
dimasmarques@faunanews.com.br
Dois casos parecidos, mas com desfechos bem diferentes. Em ambos, onças-pardas são atropeladas em rodovias e encontradas por policiais. As coincidências param por aí, já que a existência de um centro de triagem de animais silvestres (Cetas) acessível pode ter determinado a sobrevivência de um dos felinos e a morto do outro.
O primeiro caso aconteceu em 1º de janeiro:
“A onça resgatada na tarde desta terça-feira (1º) por agentes da Polícia Militar Ambiental na CE-060, entre os municípios de Barbalha e Jardim, morreu na manhã desta quarta-feira (2) por falta de atendimento veterinário.
"Ela foi atropelada, estava consciente, mas com dores. A viatura tentou contato com veterinários, mas o único que atendeu informou que não tinha experiência com animais silvestres", informou o Tenente Paulo Yrtonny, do Batalhão da Polícia Militar Ambiental.
Ainda segundo o Tenente Paulo, a onça sofreu um atropelamento e a pancada na região toráxica foi muito grande. Além disso, o animal também apresentou fratura nas patas dianteiras. "É lamentável, mobilizamos ela, procuramos atendimento adequado, mas ela não resistiu", acrescentou o militar.” – texto da matéria “Onça resgatada por policiais morre por falta de atendimento veterinário”, publicada em 2 de janeiro de 2019 pelo site do jornal cearense Diário do Nordeste
O segundo caso aconteceu no dia seguinte:
“Um filhote de onça-parda foi resgatado com vários ferimentos nesta quarta-feira (2) às margens da BR-251, em São Sebastião, no Distrito Federal. Ele foi levado pela Polícia Militar Ambiental para atendimento veterinário no Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas).
Segundo os militares, o animal foi atropelado na pista – próximo à ponte rio Bartolomeu – e estava com um ferimento mais grave na cabeça. A onça fêmea tem cerca de 1 ano de vida, mede 40 centímetros de altura e pesa 20 quilos.” – texto da matéria “Filhote ferido de onça-parda é resgatado em rodovia no DF”, publicada em 2 de janeiro de 2019 pelo portal G1
Não é possível afirmar que a onça-parda que morreu no Ceará sobreviveria caso a equipe da PM Ambiental do Estado conseguisse atendimento veterinário para o animal. Mas é fato que a inexistência de uma rede de centros de triagem de animais silvestres (Cetas) contribui para a redução das possibilidades de sobrevivência de animais vítimas de atropelamentos, ferimentos decorrentes de caça, de problemas ligados ao tráfico de fauna e de inúmeras outras situações que exigem cuidados especializados e com urgência.
O animal atropelado no DF conseguiu chegar a um Cetas e está tendo uma chance.
Os Cetas são estruturas responsáveis pelo primeiro atendimento a animais silvestres que necessitam de socorro veterinário em casos de resgates, apreensões e entregas voluntárias pela população. Esses centros fornecem um suporte especializado e, quando a soltura rápida não é possível, dão outro destino ao bicho (soltura, centros de reabilitação, criadouros, mantenedouros de fauna ou zoológicos).
Mas o Brasil, país com uma das maiores biodiversidades do mundo, praticamente ignora essa necessidade. Há poucos Cetas e muitos não possuem boa infraestrutura.
No Ceará, por exemplo, onde a onça morreu por falta de atendimento, existe apenas um Cetas, que funciona em Fortaleza e é administrado pelo Ibama. Crato, na região onde aconteceu o atropelamento, dista 507 quilômetros da capital do Estado. Ou seja, caso os policiais quisessem levar o animal até o Cetas, seria necessária uma viagem de mais de sete horas. Impraticável.
Perdemos animais por falta de interesse do poder público em investir na gestão da fauna silvestre. E porque a população não cobra dos governantes outra postura perante essa questão.
– Leia a matéria completa do Diário do Nordeste
– Leia a matéria completa do G1