
Prática consegue informações que ajudam a desenvolver medidas de proteção.
Por Yasmim Nepomuceno
Especial para o Fauna News
Nas grandes metrópoles como São Paulo, os cantos dos pássaros passam despercebidos. Mesmo assim, a cidade se tornou local para o birdwatching, prática de observar aves sem interferir no comportamento natural delas ou no ambiente. A atividade se expandiu e ajuda a promover turismo ecológico e a gerar um grande banco de dados para a Ciência.
Dados da Avistar Brasil, organização responsável por organizar o maior evento de observadores na América Latina, apontou que em 2018 no país tinham 35 mil praticantes da atividade. A prática reconecta com a natureza e traz bem-estar, sendo também é fundamental para a conservação de aves, principais vítimas do tráfico de fauna. Segundo números da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), o Brasil tem o maior número de espécies de aves ameaçadas de extinção no mundo.
A bióloga Letícia Bolian, da Secretaria do Verde e Meio Ambiente (SVMA) da prefeitura de São Paulo, destaca a importância da observação de aves na coleta de informações que contribuem para o desenvolvimento de iniciativas de conservação. “Existem algumas espécies que vocalizam muito em determinada época. Em outros períodos não se tinha registro desses animais. Mas com essas passarinhadas, foi descoberto que essas espécies estavam em outros locais do país”, ressalta.
Também se pode destacar a participação cidadã na coleta de informações já que a atividade é recomendada para todos. Na capital paulista, há registro de 506 espécies de aves e o programa #VemPassarinhar. Resultado de uma parceria da SVMA, da Save Brasil e do Instituto Butantan, ele promove encontros mensais nos parques da cidade para conhecer essa diversidade e aproveita para levar informações sobre comportamento, fluxo migratório e outras curiosidades.
A observação de aves também contribui para acabar com a cultura de criação de aves em gaiolas, pois estimula a apreciação dos animais em seu habitat natural. “Uma ave na gaiola não tem função ecológica no ambiente. Ela está simplesmente sobrevivendo. Um animal silvestre, enquanto se alimenta, ajuda na dispersão de sementes e na polinização”, enfatiza Letícia. A bióloga conta já ter ouvido relatos de pessoas que pararam de criar aves em gaiolas depois de começar a praticar birdwatching e adquirir consciência sobre a importância da conservação dos animais em vida livre.
Existem tecnologias aliadas que ajudam a popularizar o birdwatching. É o caso da plataforma internacional e-bird, que congrega informações sobre aparição dos animais e que podem ser acessadas no mundo todo, do aplicativo Merlin Bird Id, identificador de espécies, e do site brasileiro Wikiaves, uma rede social para os praticantes.
Seja pela importância educativa, turística ou científica, a observação de aves deve ser estimulada para continuar a conquistar corações. Para os interessados, a dica é não desistir na primeira tentativa e continuar educando o olhar e a audição. Para o futuro, espera-se que a prática estimule a apreciação das aves em um meio ambiente conservado.